segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

“Jornalismo, poder e sedução ou A Mídia e o Feijão”

Domingo de folga é de folga, mas jornalista ainda na faculdade aprende que domingo é dia de trabalho e que folga é que nem domingo, ou seja…

E no último domingo de janeiro, que teoricamente seria de folga, lá estava eu escalado. A missão não era das piores, cobrir a “tradicional” feijoada da Dada, e lá vamos nós.
Nome na lista, pulseira amarela com letras garrafais escrito IMPRENSA e eu, e meu colega de site – o responsável pelas fotos, a mim caberia o texto sobre o evento – estávamos dentro do espaço reservado aos nobres que desembolsaram R$ 220 para comer o feijão da pista e R$ 440 para comê-lo do alto, quer dizer do camarote.

É engraçado como tem gente que vive reclamando da vida, mas não tem pena de coçar o bolso pra comer um feijão. Tudo bem que cada um faz o que quer com seu dinheiro, mas eu nunca, nunquinha que estaria ali se não fosse por livre e espontânea pressão.
O evento contava com vários ambientes, o primeiro, um enorme salão ao ar livre, com várias mesas, onde a nata soteropolitana – genuinamente formada por brancos e muitos, mas muitos negros (isso é parte bastante relevante se levarmos em conta o valor do ingresso e divisão econômica soteropolitana – mas eu juro que tento não falar mais nisso).

Em um outro ambiente, rolava os shows, o primeiro da Voa Dois, e como neste verão já foram tantos os encontros, que é capaz de Fredd e Katê acharem que eu sou fã de carteirinha, ou então daqui a pouco eu vou estar aqui elogiando a duplinha de duas músicas, mas enfim, eles se esforçam, e hoje ganharam até uns sorriso cínicos de minha parte enquanto os fotografava (também tive meu momento Magnum 60 anos =]).

Depois de uns 10 churrasquinhos dos mais variados sabores, a equipe do Itapoan Online se dirigiu ao camarote. E ai prepara a câmera fubenga porque lá vem celebridades.
O primeiro “famoso” que vi foi Giacómo Mancini, mas ele não conta, é jornalista e ainda por cima da concorrente! (e caso se lembrasse de mim, pior ainda, barrei ele no Compoli 2006, quando queria entrevistar Heloisa Helena) Nada de fotos!

Em seguida um gordinho, calvo e que só era visto com um copo na mão, faz pose de político e me lembra que é ninguém menos do que o ex-senador e ex-ministro das minas e energias, Rodolpho Tourinho, agora eu entendo o lado da energia, fã de um Red Label, o tio Rodolpho. Falando em Red Label, no camarote ele chovia, zilhões de garrafas extremamente tentadoras enfeitavam o buffet e os copos. Mas em serviço jornalista não bebe, – isso porque o jornalista autor não consome álcool a exatos 15 dias, não que eu queira manter por muito tempo o recesso, mas promessa é promessa (recado entendido?!) – mas de lembrança, trouxe o copo vermelho com a logo do Walking.

Patrícia Nobre, sempre simpática era outra jornalista famosa e concorrente, por sinal, voltando ao Giácomo, a criança trabalha certo. Chegou e foi logo comer. Certo ele. Mas em poucos instantes o camarote virou passarela e lá estavam Luiz Sallem e sua trupe de gazelas, eram tantas que davam até pra puxar o trenó do velho Noel. Neuza Borges, a lindíssima Solange Couto, Bruno Gagliasso, a namorada Camila Rodrigues - que vai ter papel importante na história que conto já – e o seu irmão Thiago Gagliasso.

Nisso tudo Netinho já estava no palco, e o ex-secretário Albérico Mascarenhas, o deputado Grampinho Neto, e o genial (e hilário) Nizan Guanaes desfilavam pelo camarote (dizem as más línguas que se Nizan é gênio, Duda é Deus! Mas em terra de PFL o bom é o Guanaes e sem mala!), enquanto isso, o ex-prefeito Imbassahy comia na área dos mortais com a sensação de que “se fosse naquele tempo, eu também estaria lá em cima”.

Entre outras tantas ilustres presenças, uma chamava atenção dos futuros jornalistas, um senhora de baixa estatura fumando excessivamente, Lêda Nagle, jornalista e há anos apresentadora do Sem Censura na TV Cultura, e que se derreteu em sorrisos ao ouvir um “fã aspirante a jornalista pode tirar foto?” – Pode sim meu bem. Então que se registre.
Dadá chegou um pouco antes trazido por dois negões “todos completos” como diria um velho amigo, e de sunga, por que diabos eu não sei, mas enfim a anfitriã vestia um modelito “Aquático” - aquele do He-Man lembra?! Talvez explique a sunga! – e chorava de emoção – como em todo ano.

Vale lembrar também que foram feitas fotos do pobres mortais também, logo logo estarão no site, incluindo freteiras que achavam que éramos repórteres importantes, ah o poder da mídia, o poder seduz…falando em seduzir, sabe aquele sorvete que o Bompreço vende de 25 conto a caixinha minúscula?! Então tinha em fartura, e se o Bompreço não permite Dada permite, e um só não, vários, até que é bom, mas não vale os $25, tem gosto de sorvete e só!

Por fim a história mais cabeluda do dia – e olha que Cláudia Ohana nem foi vista – meu amigo fotógrafo – as vezes por demais precipitado e diríamos que estressado com aquilo que deram o nome de máquina (vale lembrar que a 01 estava em Camaçari sendo usada no jogo do Bahia, sobrou a reserva, nem de longe a altura) – foi bater uma foto da namorada do Gagliasso, que no momento comia, a moça chegou a pedir um tempinho, mas o apressado puf! Tirou.

Ela não se importou, mas um fotógrafo “profissional” ao lado não gostou, o moço que carregava o nome estampado na camisa “Fred Pontes – Fotográfo” chiou, dizendo que não se tira foto da pessoas comendo e blábláblá e ai começou a discussão, o hilário era ver que a atriz fazia o papel da turma do deixa disso, por fim o “profissional” deu um tapinha nas costas do “amador” como quem diz “vá aprender vá criança” e como resposta ouviu um “vc é viado!”. Eita, no maior estilo Vera Verão, o rapaz(?!) gritou “não me chame de viado não”. Eu já até imaginava as manchetes das colunas de fofoca no dia seguinte “Jornalistas trocam farpas no camarote da Dadá!”. Ofendido o moço veio pra cima do nosso fotógrafo que por sorte já subias as escadas. Depois o “amador” fotógrafo foi se desculpar com o “moço”, alegando estar nervoso com a má qualidade da câmera, e tomou até umas aulas de como tratar os artistas.

Pra mim foi só mais uma mostra clara de que não esse tipo de jornalismo que eu curto. Nunquinha da Silva que eu importunaria o ser humano que fosse pra dizer “oh tira uma foto aqui pro nosso site, jornal, sei lá o que!”. É estranho, mas eles são de carne e osso, e merecem seu momento de intimidade. É, descobri que é isso que eu não quero.

Lembro-me do meu longo fim de semana de 2001 em Maceió no mesmo hotel dos Titãs, tendo que tomar café com os carinhas e no máximo dizer “bom dia”, nada de tietagem. Mas enfim assim foi o valioso Feijão Vip da Dada.

Ah vale ressaltar que eu não fui solidário a Imbassahy e comi o meu prato de feijão, na ala dos R$ 440, dividindo a mesa com Ed Bala – nem tudo é perfeito né?! – Estava muito bom admito. Mas enchi mesmo foi em casa, a noite, comendo o feijão mais vip que eu conheço, o de Vó.

A propósito, ano que vem o CFC vai lançar o primeiro feijão vip do Conspiração, com o tempero da minha vó, ingressos a 500 reais e um infinidade de gente disposta a pagar caro por um prato de feijão, vai ser melhor do que ganhar na mega sena. O CFC vai pra Grécia! E de Cruzeiro! E comendo…Feijão!

Ps: Antes que a noite chegue ao fim, acabo de ser informado que Clarindo Silva voltou a ser o Rei Momo do carnaval de Salvador, por ordem judicial. No maior estilo Marreco de Cidade de Deus, eu diria: Que putaria é essa?! Nunca se viu tanta para se escolher um Rei Momo, e olha que Dadá gritou bem alto pra todo mundo ouvir na feijoada “Viva a putaria!”. Então viva! E bem que Clarindo podia ter sido convidado, com certeza ganharia uns quilinhos a mais, e quem sabe acabava com esse imbróglio. Semana de carnaval, e que venha a bendita escala!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A loira do Tchan

De presente de aniversário ganhei uma entrevista. Na verdade eu faria a entrevista. A entrevistada: Carla Perez. Plagiando a frase dita ontem pelo jurista Edvaldo Brito, agora candidato à prefeitura de Salvador, não sei se para minha sorte, ou minha desgraça.

Antes da chegada da artista de mais de duas capas da Playboy, sendo que a última delas (aquela do Papai Noel, lembra?! Ah eu também!) encontra-se nesse momento na prateleira das revistas, no meu quarto, com um autógrafo da mesma na foto da página central, conversei com o seu assessor de imprensa, usando mais uma vez o professor Brito, não sei se pra minha sorte ou azar, meu vizinho.

Cerca de duas horas depois, Carla e sua Blazer preta desembarcaram na emissora. Em pouco tempo lá estava o repórter autor, com câmera e gravador em mãos, seguindo ela e o assessor até o camarim. O “vizinho” pediu-me alguns minutos para que ele se trocasse e etc e tal, minutos que viraram uma eternidade.

Enquanto eu revia as perguntas pela 478ª vez, os dançarinos da cantora (?!) e apresentadora – assim fui informado na pauta (além de atriz! Mas isso eu que descobri!) – chegavam ao camarim, alguns vestidos de tartaruga, dentro daquelas roupas enormes que faz qualquer um morrer de calor só por olhar.

Uma eternidade depois, fui convidado pela querida maquiadora – e uma das pessoas mais divertidas dali – a entrar no camarim, Carla pediu alguns “minutinhos” e já trajada de paquita, - ou seria da própria Xuxa?! – enfim me recebeu, vale informar a censura feita pelo “vizinho” antes de irmos aos finalmentes (“isso não pode! Isso também não!” - O que é que pode meu filho?!)

A figura foi uma simpatia que só, respondeu a todas as perguntas – vale lembrar que apesar da primeira pergunta já ter sido feita diretamente para Carla, o “vizinho” é que tratou de responder. Mas ai a gente conta até dez, faz cara de maníaco psicopata e toca o barco.

Por fim, algumas fotos e ela bastante atenciosa se despede, correndo para se posicionar atrás do palco, onde encontra o amigo e apresentador daquela casa, recém contratado. Ambos participam juntos da gravação do programa. Mais uma foto com os dois juntos nos bastidores, e o nome da loira é anunciado. Ela é arrancada das mãos do comunicador por um produtor, e entra no palco.

A criançada vai ao delírio, canta e pula o tempo inteiro. E o repórter aniversariante até se pergunta, não é que ela leva jeito?!

Confira a entrevista em primeira mão:

*O Algodão Doce se tornou ao longo dos anos um dos principais blocos infantis do Carnaval. E em 2008, o que você promete trazer de novidade para o bloco?

-Esse ano teremos alguns convidados especiais. Tem a Kelly Key que vem fazer uma dobradinha com a gente. Tem Toni Garrido, Pitoco, Xandy que é o padrinho do bloco. Tem a Thaeme Mariôto, do Ídolos. E esse ano tem uma novidade para as crianças. Quando elas forem pegar a mochilinha, com o abadá, com a mamãe sacode, com o suquinho, o biscoitinho, tudo isso que a gente manda, ela vai ter direito também a tirar uma foto com o nosso fotógrafo no estúdio e ai vai ser feita uma montagem, juntando a foto deles com a minha foto. E ai a criança vai ter uma lembrança do Algodão Doce.


*Ainda sobre o carnaval, existe alguma coisa preparada para o Passeio Público?

-Ah tem sim. Eu estarei sendo homenageada no Passeio Público esse ano. A gente vai fazer um show especial pra eles, levando os convidados do bloco pra lá também., pra continuar a festa lá. Eu diria que o bloco se estende ao Passeio Público. Porque a galerinha toda continua lá com a gente. E ai eu vou me apresentar lá


*Como é que funciona a escolha do repertório para o carnaval?

-Assim eu tenho três cds infantis, e ai a gente faz uma seleção do que vai tocar dentro da Avenida. E fora eu vou sentindo o público e as coisas vão acontecendo.


*Como é que foi o 2007 de Carla Perez?

-Pra mim foi um ano em que eu estudei muito, então eu estava pirando. Olha que as vezes eu não estava agüentando mais. Eu falei gente. Por que você estudar...Eu estou fazendo curso de teatro. Estou pra acabar. Filhos, marido, trabalho, casa pra cuidar, tudo, ai deixa a gente doido, pira mesmo. E esse ano teve apresentação tanto no final do segundo termo, quanto no final do terceiro. Agora depois de carnaval eu vou começar o quarto.


*No final do ano passado você liderou a campanha Mercado Infantil Solidário, que arrecadou roupas para crianças de instituições hospitalares. Como é que surgiu a idéia e como é que foi o resultado?

-Eu fiz a um tempo atrás, foi uma das primeiras vezes que fiz algo para as crianças, isso tem uns seis, cinco anos no máximo, que eu fiz a campanha. E no fim do ano passado eu reencontrei a dona, e ela pediu que eu participasse da campanha que nesse ano ajudaria o hospital de Irmã Dulce e o NACCI. E do NACCI eu sou filha, sou mãe, sou tudo. E na mesma hora, quando ela falou que ajudaria o NACCI eu não pensei duas vezes, e ainda convidei o Xandy para fazer junto comigo. Por eles queriam um padrinho e um madrinha. E ai tivemos a maior arrecadação que a gente teve. E fizemos a entrega já agora em 2008.


*E os projetos para o decorrer de 2008?

-Olha, pós carnaval eu vou estar com um piloto pra ser apresentado através da Cinema Music, pra ver se a gente faz um trabalho bacana para as crianças na televisão. Ai se rolar benção pura, se não paciência.

Feliz aniversário, envelheço na cibercidade

As garotas da minha rua, os garotos a beber. Já não tenho a mesma idade, envelheço na cidade. E pra piorar, eu já não caibo mais nas roupas que eu cabia e já nem encho mais a casa de alegria. Mas enfim é aniversário.

É sempre engraçado aniversariar, é verdade que não é tão engraçado acordar cedinho com o celular tocando, mas as mensagens de pessoas que você não vê faz tempo, pagam pelo transtorno. Até mesmo um bonitinho “aproveite o dia especial de hoje” do Itaucard, que dessa vez não falou em dívidas.

O carinho dado pela família antes mesmo de você por o pé pra fora da cama, faz com que se deseje que todo dia seja aniversário. Café da manhã especial e tudo.

Mas o que pode parecer uma repetição dos anos anteriores se mostra diferente em pequenos, mas significativos momentos.

De uns anos pra cá, com o advento tecnológico orkutiano, as coisas ficaram…diríamos que bem mais divertidas.

Você recebe parabéns de gente que nunca viu na vida. E que no máximo trocou cinco palavras com você nos longos meses de “amizade”. Mas recebe parabéns de gente que esteve presente na sua vida desde o tempo em que aprendiam a ler, e que há muito tempo não se encontram, não se abraçam, mas que faz questão de deixar nas palavras todo o carinho e admiração que são recíprocos.

Ou ainda de gente que você conheceu a pouco tempo, e que o pouco já virou muito e com um pouco mais de atenção se percebe é que falta pouco, e que pouco a pouco os amigos de faculdade se transformam em muito na sua vida. Seja escrevendo de Paris, Bilbao, Santiago ou do computador do seu lado.




De gente que entrou em sua vida por uma informação, e que o coração faz questão de informar todo dia, que jamais sairá.

De “amigos” e amigos do país inteiro, gente que você tem um carinho todo especial sem sequer ter dado um abraço.

Homens de barba na cara e mulheres já comprometidas que dizem com todo carinho “eu te amo”.

De pessoas que tinham tudo pra não fazer parte da sua vida, mas que lhe fizeram voltar a ser calouro, e amar cada momento ao lado delas.

De pessoas que a sete dias atrás você nem conhecia e que hoje você morre de saudades do miojo feito por elas.

De gente que foi tão importante na sua vida, por um tempo deixou de achar que fosse, e hoje volta a te escrever pra desejar todo sucesso do mundo.

Aniversário é mesmo algo bem estranho, mas engraçado também. Compartilhar um bolo gigante com colegas de redação, “amigos” de longos dois meses é diferente, mas divertido.

Passar mais uma etapa é tempo de olhar pra trás e agradecer aos responsáveis. Os que tiveram a obrigação e os que foram escolhidos (a dedo).
É tempo de relembrar os que já não fazem parte do convívio diário em corpo, mas que nos observam a todo momento. É hora agradecer e só.

Pelos poderes do ciberespaço, eu tenho a força.
A força são os outros. Afinal “sem você sou pá furada”.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O Oscar 2008 e os moleques da Academia

A Academia Americana de Cinema revelou ontem o nome dos indicados ao Oscar 2008. Óbvio que não vi quase nada dos concorrentes a indicados e muito menos dos classificados.


Mas vi "O ano em que meus pais saíram de férias". Filme brasileiro dirigido por Karl Hamburger, o filme se passa no ano de 1970. Ano do tri-campeonato mundial de futebol. Momento em que a ditadura nos apresentava o fenômeno do crescimento e da repressão. "O ano…" foi um dos poucos filmes brasileiros que vi no cinema. Um filme que todo brasileiro deveria ver. Mas que não estará concorrendo ao Oscar.


Desta vez não vejo culpa nos velhinhos da Academia, "O ano…" é um filme que mexe com o sentimento de quem é brasileiro, de quem conhece de perto a história das perseguições, de quem ouviu dos pais e avós sobre os anos de chumbo. É um filme que fala de nós para nós.


Só quem é brasileiro, sabe o valor da imagem do jogador tchecoslovaco que faz um gol na seleção brasileira, e mesmo sendo de um país comunista, se ajoelha e faz o sinal da cruz na comemoração. Uma das imagens mais belas da história do futebol, mas que só quem é de um país apaixonado por esse esporte pode entender. Assim como o passe no vazio de Pelé para Carlos Alberto. Gol do Brasil. Tri campeão mundial.


A Academia não é boa o bastante para ver em "O Ano…" coisas especiais que notamos com um simples olhar desatento. Foi o filme de despedida de Paulo Autran, um dos maiores mestres da interpretação e da humildade que já se ouviu falar.

"O ano…" é um dos mais nacionais de todos os nacionais já produzidos neste país. Pode não ser uma obra prima, merecedora de n prêmios, mas é digna do carinho de todo brasileiro.


Pensando bem foi até bom não nos representar no Oscar, o maior prêmio que podia ganhar, dele ninguém tira, é o reconhecimento. Aliás, talvez só os Homens de Preto seriam páreos para a Academia. Seria engraçado depois da recusa ouvir Capitão Nascimento dizendo aos senhores do cinema: Não vai subir ninguém! E tirem essa roupa preta porque vocês são moleques! Moleques ouviu bem!

Olha que coisa mais linda mais cheia de Graça

Engraçado como algumas idas consecutivas a um mesmo lugar são capazes de criar constatações tão precisas.
Um dos metros quadrados mais caros de Salvador, o bairro da Graça, guarda particularidades que chamam atenção de qualquer intruso observador.



Um morador do bairro mais populoso da cidade, acostumado com a falta de espaço nos passeios lotados, se constrange ao andar pelo meio da rua. Tirando uma banca de revistas aqui, uma obra ali, espaço é o que não falta, a calçada está vazia.
Os cães parecem ser diferentes, não latem desesperadamente, estranho, não parecem cães. Alguns usam roupas e chinelos. Quem disse que não existe a elite canina?!

A Graça nos no ínicio do século passado

Negros e brancos convivem pacificamente. Segregação? Não, por favor, negros ali não faltam, basta passar pelas centenas de portarias e nota-los. Ou ainda andando pelas ruas conduzindo a "nata cachorral" ou as sacolas com compras.
Os edifícios levam nomes de ingleses, franceses, possivelmente heróis da história européia, que pobres mortais jamais ouviram falar. E possivelmente nem os próprios moradores.


Mas pelas ruas tranqüilas e de sombras convidativas, se vê a mesma coisa que em qualquer outro ponto da cidade, seja na Liberdade, ou em Plataforma. Esperança. A arte de viver da fé, que só não se sabe em que, também existe por lá.
As senhoras que fazem seu cooper de todo dia, e abrem a bolsa para ajudar um pedinte, não só dão a esmola, conversam, aconselham, parecem acreditar num futuro menos cruel, mais igualitário.

Difícil para esse protótipo de escritor cada vez mais jornalista adorniano, ou seja, pessimista, ver algo nesse futuro.


Mas o menino de não mais que quatro anos, que passa pelo largo, olha no fundo dos olhos de uma mulher com uma criança de colo, provavelmente moradoras de rua, e em seguida olha os pais, aponta a cena e ri com uma expressão de sinceridade tão verdadeira, que parece óbvio traduzir o "olha o bebezinho mãe". Sua mãe sorri e lhe estende a mão, ele ainda se vira para novamente observar a cena.

Num futuro próximo, eles podem até estar em lado opostos, mas o sorriso sincero me deixa com a ligeira impressão de que estarão juntos, independente de qualquer coisa lutando por algo melhor, para todos.


A cena mesmo vista a distância, foi sem dúvida, uma das coisas que vi ali de mais lindo, mais cheio de Graça.

O Bahia e o Barradão – Aqui não violão!

Na semana seguinte a tragédia de 25 de novembro na Fonte Nova, já se cogitava que o Bahia poderia mandar seus jogos no Barradão. Cogitação essa logo desfeita pelo próprio presidente do Esporte Clube Bahia, o senhor Petrônio Barradas.
Quase dois meses após o trágico acontecimento, o Bahia começa a sentir no bolso a falta da Fonte Nova.


O time que teve em 2007 a maior média de público do país, levando ao estádio mais de 38 mil pessoas por jogo, passou a levar 2 mil pessoas ao estádio Armando Oliveira, na cidade de Camaçari. O borderô trouxe problemas. Petrônio chiou. E agora se fala em alugar o Barradão. As diretorias de Bahia e Vitória prometem ouvir as torcidas antes de qualquer decisão, o rubro-negro faz hoje antes do jogo pelo Baianão uma pesquisa de opinião com seus torcedores.




Como torcedor do Bahia, sou contra. E não por um orgulho besta, simplesmente por achar que o Manoel Barradas é um patrimônio do Vitória e que este tem o direito de alugar ou não. E sendo rubro-negro eu não alugaria, por coerência.
Cresci ouvindo e também fazendo brincadeiras sobre o que chamávamos de "lixão", mas sempre tive a plena convicção da magnitude do empreendimento pertencente a Leão da Barra. Fui ao Barradão inúmeras vezes e na maioria delas o Bahia sequer estava em campo. É um patrimônio digno de um clube da elite do futebol brasileiro.


Agora o porquê de não ceder ao Bahia o Barradão:
Em menos de dois anos, o E.C. Bahia sofreu duas punições por invasão de campo. Uma em 2006, num jogo contra o Ipatinga, em que a torcida protestava contra a derrota do time e invadiu o gramado, transformando a Fonte Nova numa praça de guerra. E outra no mesmo dia do desabamento da arquibancada, no fim do ano passado, dessa vez em comemoração à ascensão à série B.


Logo me pergunto o que me garante de que uma invasão como essas não ocorrerão no Barradão, levando a interdição da única praça esportiva de Salvador em condições de uso?! Onde o Vitória jogaria na série A? A torcida do Bahia é antes de tudo pacífica, apaixonada, imensa, mas, os vândalos já estão embutidos nesses números. É certo que como diz João Moreira Sales, em A Violência e o Futebol, de Mauricio Murad (livro em que me debruço a ler no momento) nós torcedores somos a norma, e eles, os vândalos a exceção, mas eles, estão cada vez mais presentes em nossos estádios.


Conheço exceções que teriam prazer em ir ao Barradão apenas degrada-lo. O que me garante que não arrancarão a grama e subirão no carrinho da maca comemorando o título do Baiano enfrentando um time do interior, e depois darão a mais ridícula das desculpas. Precisávamos extravagar a alegria! Assim não dá.


Antes de ser torcedor do Bahia, sou torcedor do futebol. E os números jogam contra o Bahia, é triste, mas não dá pra confiar. É triste ver que a corja que administra o Bahia hoje é a mesma de anos e anos atrás, a mesma que teve por diversas vezes oportunidades para erguer o estádio tricolor, mas não o fez. Agora chiam. Os culpados são os mesmos. O presidente do Vitória diz que a vontade da torcida será respeitada. Espero bom senso da nação rubro-negra e que a dignidade tricolor não seja enganada pelos verdadeiros responsáveis pelas eternas derrotas, dentro e fora de campo, daquele que nasceu pra vencer.


O que amanhã uma manchete estampe os jornais: O Bahia de Barradas é barrado no Barradão.