sábado, 19 de dezembro de 2009

A vez de Ricardo Coração de Leão

Diferente da história inglesa, não foi com a ajuda de Robin Hood que Ricardo voltou ao poder na Toca do Leão. No entanto, assim como na história do heroi que tira dos ricos para dar aos pobres, Ricardo, o Silva e não o Coração de Leão, volta com a aclamação popular. Ricardo é querido pela maioria dos jogadores, visto pela imprensa com bons olhos e o melhor, é um nome com a aprovação da torcida.
Ricardo Neto da Silva nasceu em Rio Branco, Minas Gerais, tem 48 anos e é professor de educação física, formado pela Universidade Católica de Salvador. Ele já treinou as categorias de base do Vitória e do Bahia, além de ter treinado também em solo baiano, Camaçari e Fluminense de Feira. O técnico também auxiliou nomes consagrados do futebol, como Evaristo de Macedo, Joel Santana, Toninho Cerezo, Hélio dos Anjos, Mário Sérgio, Abel Braga, entre outros.

Ricardo chegou ao Vitória em 18 de abril de 2008, com função de assistir aos jogos dos adversários rubro-negros e preparar relatórios para os técnicos. De olheiro foi promovido a auxiliar técnico, e chegou a assumir o time interinamente em três ocasiões nesta temporada.
Na primeira entre 14 e 18 de fevereiro assumiu o time após a saída de Mancini para o Santos, disputou dois jogos e venceu os dois. Com a chegada de Mauro Fernandes, voltou ao cargo de auxiliar, mas com a demissão do então treinador, foi novamente requisitado para assumir o time. Nesse período, entre 26 de março e 13 de abril, Ricardo acertou o time e conseguiu cinco vitórias seguidas, quatro pelo Baiano e uma pela Copa do Brasil, a única derrota foi no último jogo comandando o time, que classificado por antecedência, jogou com a equipe reserva. Então Ricardo deixou o comando do time, apesar do grande apelo da torcida e da imprensa para que continuasse, dando lugar a Paulo César Carpegianni, que dirigiu o time nas quatro partidas finais e conquistou o título, cuja importância de Ricardo foi destacada por todos, inclusive por PCC. E a última vez que Ricardo esteve a frente do time de Canabrava foi entre os dias 10 e 13 de agosto, pela Copa Sul-Americana, entre a saída de Carpegianni e o retorno de Mancini, mais uma vez Ricardo saiu de campo com um triunfo.

Como jogador, ele atuou de centroavante, começando a carreira no Botafogo do Rio. Passou depois pelo Fluminense de Feira de Santana, Atlético Mineiro, Portimonense de Portugal, ABC de Natal e encerrou a carreira no Leônico, clube da capital baiana.O fato é que Ricardo tem agora a grande chance da vida, principalmente após a contratação de Renato Gaúcho pelo Bahia, trazendo visibilidade ao estadual. Com a verba reduzida para 2010 - estima-se que o clube não pretende gastar mais de R 400 mil/mês durante o estadual, creio que a opção de Ricardo foi acertada, vale lembrar que diferente do Bahia, a quem tanto se cobra uma chance aos "senhores desta terra", o Vitória costuma dar chances a profissionais que conseguem relativo sucesso em clubes do interior. O rubro negro já se deu bem em várias contratações de jogadores que se destacaram no estadual em clubes, o último exemplo, o bom Neto Berola. Mas o Vitória já foi mais além, dando vez a técnicos da casa. O campeão baiano de 2006, pelo Colo-Colo de Ilhéus, Ferreira, já teve a oportunidade de comandar o atual tri-campeão baiano. A Ricardo, o desejo de sucesso e que a nova leva de interinos promovidos possa ter nele mais um bom nome.

Se a diretoria não precisou deixar Salvador para buscar o técnico, foi até Porto Alegre trazer o novo superintendente de futebol, Mauro Galvão. Dentro dos campos, um zagueiraço, tetra campeão brasileiro, de passagem marcante e inesquecível por Vasco, Inter, Bangu, Botafogo, Grêmio e seleção brasileira, disputando inclusive a Copa de 90. Mas a experiência fora dos campos de Galvão ainda é curta, fez parte da comissão técnica do Vasco, como treinador de zagueiros em 2003, no ano seguinte foi técnico do Botafogo e em 2005 do Naútico por seis meses. Em janeiro deste ano, foi apresentado como diretor-executivo de futebol do Grêmio, substituindo Rodrigo Caetano, que foi para o Vasco. No entanto, foi demitido no decorrer da temporada e agora assume o Vitória. Que a parceria com Ricardo Silva, traga ao clube bons frutos. A gana demonstrada pelo Bahia em vencer o estadual deve contribuir para que Ricardo e Galvão preparem um Vitória forte e competitivo, por hora é aguardar.

O mundo é dos artistas!

Não dá pra não ver o Barça de outra forma após conhecer um pouco da sua história, após ler o capítulo dedicado a este de "Como o futebol explica o mundo" e após ver o time artístico de Daniel Alves, Xavi, Ibra, Messi, o maior deles, e cia limitada.

Na terceira oportunidade de conquistar o mundo, o clube catalão, que hoje joga o mais belo futebol do planeta, não tinha, como nas outras vezes, pela frente um time brasileiro. Mas tinha do seu lado, como em 92, contra o São Paulo, Guardiola, desta vez não em campo, mas no banco, comandando o time. E desta feita, não teve jeito. Bem verdade que não teve pelo lado do valente Estudiantes, um iluminado Gabiru como em 2006, ano em quem o mundo foi colorado. Desta vez, o mundo viu a vitória do futebol arte, nem sempre louvado, afinal para muitos, o que importa é o resultado. Mas ainda bem que em muitas vezes, o bendito resultado é feito por artistas, craques da bola, gente que faz obra de arte com o coração, como fez hoje, o argentino melhor do mundo ao colocar com o lado esquerdo do peito, a bola do título no fundo da rede!

Vale lembrar que os artistas da bola, fecham a temporada 2009 conquistando literalmente tudo o que disputaram: Copa do Rei, Campeonato Espanhol, Supercopa da Espanha, Liga dos Campeões, Supercopa Europeia e Mundial de Clubes. É, não há como negar, o mundo é dos artistas!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Feliz de quem tem histórias pra contar...


Nenhum torcedor do Bahia, esquece. Muitos do jovens hoje presentes em Pituaçu sequer assistiram a conquista, mas pergunte a qualquer um dele, o nome de pelo menos três daqueles herois, com certeza saberão. Cresci sabendo escalar, Ronaldo; Tarantini, João Marcelo, Claudir e Paulo Róbson; Paulo Rodrigues, Gil e Bobô; Zé Carlos, Charles e Marquinhos. Técnico: Evaristo de Macedo. E foi justamente estes, com excessão de João Marcelo que foi substituido por Newmar, que entraram em campo para a festa deste domingo 13 de dezembro, contra o Internacional de Porto Alegre, representado também pelos atletas colorados que defenderam o time gaúcho na mesma ocasião 20 anos atrás. Foi o mesmo Bahia da decisão. Mas outros monstros eternizados sobre a batuta de Evaristo também fizeram parte da festa, Ricardo, Edinho jacaré, Sandro, Osmar, Dico Maradona e Sales também mataram saudades da turma tricolor, fazendo esta recordar com brilho nos olhos.

Foi um dia muito representativo para a história do Bahia, apesar de representantes da atual diretoria - prova do descaso com o clube, com os ídolos e história do clube. O público foi pequeno para quem chegou a ver a Fonta Nova com 110 mil pessoas, apenas 3 mil desta feita, mas suficientes para abrilhantar uma festa bonita. Para relembrar o dia em que o Bahia voltou a ser o maior do país e provou que era possível.

Apesar do aparente descaso por parte da diretoria do Bahia ao evento, o Sport Club Internacional de Porto Alegre, merece todas as congratulações, se o clube campeão não moveu uma palha na realização do evento, além de ceder as camisas para atletas tricolores, a direção do Colorado abraçou a ideia e mandou a Salvador, o vice presidente e as trofeus de suas últimas conquistas, entre elas o Mundial de clubes da Fifa. Exemplo bonito de respeito a seus ídolos, ainda que não tenham conquistado naquela ocasião o título. Bacana também ver a emoção dos atletas do Inter em campo. Edu Lima, Casemiro, Mauricio, Norton, Luiz Carlos Martins, Helder, sempre aplaudidos pelos tricolores, afinal era uma celebração. Vaias e bem poucas, apenas para o rubronegro da festa, o campeão mundial de boxe, Acelino Popó Freitas, torcedor do Vitória.


O jogo terminou 1 a 1. Casemiro para o Inter e Zé Carlos, o grande anfitrião e organizador do evento, para o Bahia. Mas o placar pouco importou. Bom foi rever os milagres de Ronaldo, a marcação aplicada de Tarantini, a segurança na defesa de Claudir, Pereira e Newmar. A irreverência de Paulo Robson, o passe aplicado de Paulo Rodrigues, e até mesmo ver que a elegância sutil de Bobô, não é mais a mesma. O corpo já não responde como antigamente, que o diga Marquinhos, sempre lépido, assim como o próprio Zé Carlos, camisa 10 daquele time e o goleador Charles. Bom foi rever Lourinho, torcedor símbolo daquela conquista, debilitado, andando com dificuldades e apoiado em uma bengala, ser venerado pela torcida. Bonito ouvir ecoar em Pituaçu, cânticos entoados naquela saudosa época de Fonte Nova lotada e Bahia temido pelos adversários. Bons tempos, que não voltam mais. Da tarde de boas lembranças e filmes passando pela cabeça, ficou a lição de que, feliz de quem tem histórias pra contar....


Fotos: Edson Ruiz/Fotopress/Uol; Fabrizio Freitas; Antonio Saturnino/Correio da Bahia.

"Do imbróglio que quiproquó" : O racha vermelho e preto

Desde que tomei conhecimento da grande confraria de divergências que se tornou a diretoria do Vitória tentei entender o que afinal estava a acontecer com o time de Canabrava, ouvindo por diversas vezes as partes envolvidas. As publicações diárias baianas fizeram uma cobertura que eu diria ter sido louvável na busca de esclarecer o leitor sobre o imbróglio. O fato é que o Vitória fecha o ano com um rombo de R$ 7 milhões, sendo que 70% ou R$ 5 milhões são referente a dívidas feitas pelo departamento de futebol, que era comandado pelo ex-presidente do Vitória S/A, Jorge Sampaio, demitido do cargo de diretor de futebol nos últimos dias.

Quem me conhece, sabe que nunca tive pelas figuras de Alexi Portela e Jorge Sampaio simpatia alguma, mas é preciso reconhecer que quando assumiram o Vitória, o time estava em uma terceira divisão. Juntos, trouxeram em dois anos o time de volta à elite do futebol nacional, livraram o clube do estigma da versão baiana de Eurico Miranda, que aos poucos se transformava Paulo Carneiro. Me recordo de muitas das críticas feitas a Jorge Sampaio, que foi quem de fato colocou a cara pra bater, já que Alexi sempre foi mais reservado, atuando muito mais, fora dos holofotes. Diziam que Jorge Sampaio entendia muito de axé music, onde foi agente de vários artistas, e nada de futebol. Apesar disso, ele e Alexi sempre foram tratados como pessoas sérias, gestores de reputação limpa, tudo o que o clube precisava. Não se pode negar que deu certo. O Vitória saiu da série C para a A, disputou a Copa Sulamericana e venceu os três estaduais disputados sob o comando da dupla Sampaio/Portela, além disso, voltou a revelar bons talentos.
Entretanto, o lado torcedor de Jorge Sampaio sempre muito mais presente para os holofotes, do que o seu lado cartola, um grande erro. Quem o conhece, diz que ele sempre foi um torcedor de arquibancada daqueles no bom sentido da palavra, "chato", do tipo que aceita tudo, menos que falem mal do seu time. E esse lado, ele levou para dentro do gabinete da presidência. Mais do que óbvio que um presidente seja torcedor fanático do seu time, equivocado que em muitas vezes deixe o seu lado dirigente para se comportar como torcedor. E em muitas vezes como o torcedor mala, bobo, palerma. A provocação faz parte da magia do futebol, e é necessária, mas pense rápido e responda, qual a graça do presidente do Vitória contratar a cozinheira demitida do maior rival após comandar uma greve, onde reclama o pagamento de salários? E ostentando que na Toca do Leão ela seria bem tratada e receberia em dia? Era o lado torcedor bobo de Sampaio descontrolado. Mesmo lado que tratava o Bahia, como "o time da segunda divisão." Patético se não fosse triste.

No entanto minha crítica à dupla de gestores não é apenas por isso, como futuro profissional de imprensa, com passagens por alguns veículos de comunicação do estado, sei de manobras que envergonhariam qualquer torcedor do Vitória que comemorou "a volta da democracia" ao clube com a queda de Paulo Carneiro. Sampaio e Portela são da mesma estirpe de cartolas que pedem a cabeça de profissionais da imprensa, quando acham que foram de alguma maneira prejudicados. São e eu sei que são. No entanto, isso também não é algo que deva se discutir no momento, e não tem influência nos rumos que as coisas tomaram.

Com o fim do Vitória S/A em 2008, Sampaio, então presidente, passou ao cargo de vice-presidente executivo e também gestor de futebol do Esporte Clube Vitória, sob a presidência de Alexi Portela. A partir de 2009, o trabalho deixou de se concentrar nas mãos dos dois, e o clube ganhou uma espécie de conselho com mais 11 ou 12 diretores, a partir de então, começou o que muitos chamaram de um "processo de fritura" de Sampaio dentro do clube. Em abril, Raimundo Queiroz foi contratado para ser o diretor de futebol, função que já era exercida por Sampaio - segundo este, a contratação foi feita sem que o consultasse. Desde então, Sampaio só perdeu espaço no clube e ganhou um forte opositor, Carlos Falcão, vice-presidente administrativo e financeiro. Sampaio deixou claro que discutiu muitas vezes com Falcão e que este sempre expressou que não gostava da presença do então parceiro de Alexi Portela à frente do futebol.

A política dentro dos clubes de futebol do país é muito forte e em muitas oportunidades é tão podre quanto a política de propinas nas meias e nas cuecas. No futebol baiano não é diferente. No caso do Vitória, Jorge Sampaio é amigo do ex-presidente Ademar Lemos Júnior, uma das maiores lideranças do clube, há mais de 40 anos. Foi Ademar o responsável pela indicação de Sampaio para presidir o clube. Ainda assim o empresário do axé music nunca foi unanimidade dentro da diretoria e foi justamente Carlos Falcão, o seu maior crítico e apesar de relutar em permanecer no clube, não resistiu ao estouro da bomba do rombo e caiu. Colocando um ponto final na relação que trouxe o Vitória de volta à série A e devolveu a este, a hegemonia do futebol baiano.
O fato é que Sampaio sai queimado, como grande responsável pela crise financeira, mas obviamente não é o único. Em entrevista dada ao jornalista Herbem Gramacho, do Correio da Bahia, Sampaio confirma o déficit, mas se defende, inclusive citando o medo de perder o campeonato para o ex- presidente do Vitória, então diretor do Bahia, Paulo Carneiro: "Gastamos (demais) sim. Lógico que não é certo contratar 40 jogadores, mas precisava de 20. [...] O Vitória tinha que ganhar esse campeonato por causa da importância natural, mas era muito mais importante não permitir a reação do Bahia por causa de Paulo Carneiro. Então eu sou errado porque gastei demais?" Em minha opinião, é óbvio que sim, e fica evidente que o lado torcedor influenciou e sempre de forma negativa, mas volto a dizer, Sampaio não pode ser considerado o único culpado pelo rombo de 2009, situação que apesar do alarde feito no Barradão, é comum na maioria dos clubes brasileiros. Poucos deixarão de fechar 2009 no vermelho.

O certo é que o Vitória junta os cacos e vai para 2010 com uma folha de R$ 400mil. As novidades ficam por conta de Mauro Galvão como Supervisor de Futebol e com a merecida chance dada ao a Ricardo Silva, interino em outras oportunidades e agora efetivado como treinador (que tratarei em um outro post). Chance essa que talvez não aparecesse sem o tal "rombo do ano". Por isso, ao torcedor do Leão, resta ver o lado bom da coisa, como Poliana, e pensar que há males que vêm para o bem. E que 2010 tenha menos tormentas e muito mais a se comemorar.

Imagens: futebolbahiano.com e barradaoonline.com

sábado, 12 de dezembro de 2009

BR-09: De tudo aquilo que se faz eterno...

Quase uma semana depois, mas ainda assim em tempo, parabenizo ao Flamengo pelo merecido título do BR-09. Talvez eu escrevesse aqui "merecido" para qualquer um dos quatro clubes que chegaram com chances de título na última rodada, afinal este não foi um campeonato qualquer. Talvez somente daqui há alguns anos, como já disse Lédio Carmona, possamos olhar para trás e concordar que este foi um campeonato acima da média, diferente, espetacular. Pela primeira vez na vida, nenhum dos meus dois times disputou a divisão de elite do futebol nacional - o que não é mentira, mas me refiro precisamente ao tempo que acompanho futebol. No entanto, foi com muito entusiasmo que assisti a esta festa linda que foi o BR-09, por vezes tensa, intrigante, surpreendente, enfim, do campo às arquibancadas, tivemos um lindo espetáculo na sua totalidade e que jamais será esquecido.

Com tantos dias de atraso, qualquer que seja o que eu diga aqui sobre o Flamengo, pode ser encarado como mera repetição. No entanto, encontrei no divertido blog Arthur Muhlenberg (blog do torcedor do Flamengo no Globoesporte.com) um texto bem bacana sobre a conquista do a partir do viés de Andrade como o primeiro técnico negro a se sagrar campeão brasileiro e reproduzo aqui. O vídeo também foi retirado do blog do Arthur e pode ser encarado como uma homenagem à torcida que deu um show durante o campeonato. E ainda dizem que torcida não ajuda...ah tá.

Por Robert Shaw para a revista inglesa When Saturday Comes:
O Problema Racial do Futebol Brasileiro

"A coisa mais notável sobre o titulo nacional que o Flamengo conquistou no ultimo fim de semana não é a espera de 17 anos e nem o inesperado verão ensolarado na outonal carreira do meio-campista sérvio Dejan Petkovic. A grande surpresa é que o clube tem Jorge Luís Andrade, um técnico negro. O gato-mestre da SporTV Telmo Zanini considerou o fato um marco e declarou: Esperamos que seja um dia histórico para o futebol brasileiro e ajude a abrir portas para técnicos negros. Como Andrade foi aclamado como o primeiro técnico negro a vencer o Campeonato Brasileiro alguns torcedores rubro-negros lembraram que Carlinhos, o técnico do último título em 1992 foi o primeiro. Mas Carlinhos é geralmente visto como mestiço.

O tema da identidade racial – e quem é classificado como negro – no Brasil, reflete o preconceito generalizado enfrentado pelos técnicos negros. Esse é a sexta vez em que Andrade comanda o Flamengo, e era a terceira opção do clube. Mas foi a primeira vez que ele foi contratado como técnico titular, e não interino. Eleito o treinador do ano, aplaudido por armar um improvável Flamengo campeão combinando os talentos vagabundos de Adriano, Petkovic and Zé Roberto. Andrade foi criticado quando efetivado, com muitos esperando que o Flamengo contratasse um grande nome. O que significa dizer um salário maior, equipe técnica cara e, quase invariavelmente, um branco. Nenhum dos outros times da Serie A é treinado, o que a mídia brasileira parece reconhecer, por um negro.

O próprio Andrade reconhece o problema. “Muitos pensavam que eu não era capaz de fazer um bom trabalho, e aí está a questão da cor. No Brasil nós temos poucos treinadores negros.” Isso se aplica até em clubes como Flamengo e Vasco que são a linha a de frente na quebra de barreiras para os jogadores negros há mais de 70 anos.
Os clubes do Brasil, afogados em dívidas, parecem mais dispostos a colocar dinheiro na elite branca dos técnicos do que contratar alguém mais barato que seja negro. Jogadores conhecidos que se tornaram treinadores como Lula Pereira e Cláudio Adão tiveram menos oportunidades que jogadores do mesmo nível deles nos últimos 20 anos. Andrade ganhou 4 Brasileiros como jogador do Flamengo, mais do que qualquer outro técnico na Série A. Mas sua modéstia pessoal limitou a sua participação nas atividades fora de campo, como palestras e aparições na mídia, que atraíram muitos dos seus contemporâneos. No Brasil, autopromoção aparece como algo tão importante quanto a preparação do time.

Uma rápida olhada nos times do Brasil na Copa do Mundo reforça a impressão. Nenhum dos jogadores negros da seleção de 70 construiu uma carreira como treinador de ponta, apesar das incursões de capitão do time, Carlos Alberto Torres, como treinador. A barreira para treinadores negros é também um reflexo da esmagadora maioria de dirigentes brancos.

Não surpreende que um dos mais bem sucedidos treinadores negros teve que deixar o país pra desfrutar o sucesso. Didi, estrela do Botafogo e da Seleção Brasileira em 1958 e 1962, levou o Peru até as quartas-de-final da Copa de 1970 como treinador. Na realidade pouca coisa parece ter mudado desde os tempos de Gentil Cardoso, há 50 anos. Além de ser o primeiro técnico negro de um grande clube Gentil Cardoso foi quem contratou Garrincha para o Botafogo. Seu sucesso significou um brilho efêmero no cargo de técnico da Seleção Brasileira.

Cinqüenta anos depois Brasil tem um treinador branco, Dunga, contratado sem nenhum experiencia previa. O brasileiro no comando da África do Sul em 2010 é Carlos Alberto Parreira, da elite dos treinadores brancos.

Apesar do sucesso de Andrade pode levar algum tempo antes que os treinadores negros quebrem o apartheid particular do futebol brasileiro."

Flamengo Hexacampeão Brasileiro from Gustavo Pellizzon on Vimeo.