Na saída do campo de treino do Fazendão, René olhou de longe a concentração de jornalistas na sala de imprensa. A primeira coletiva após a saída de Jobson seria diferente. Olhar sereno e caminhada lenta. Na chegada, alguns cumprimentos. René estava triste, mas de coração aberto. Poucas perguntas e pouco mais de meia hora de conversa.
O treinador falou sobre a dedicação na causa do jogador e o desandar da carruagem. O treinador disse que não sabe medir se fez tudo o que esteve a seu alcance, mas deixou claro que não vai sofrer pela perda do jogador.
- Em respeito a tradição do Bahia e a seus torcedores, quem veste a camisa ou fala pelo Bahia, como eu, tem que ter a noção de que representa uma entidade bem antiga. Tem que ter profissionalismo e respeitar essa nação. Isso é um ponto. O outro é que ninguém ficou feliz com a situação. Foi um grupo que comprou a briga. Todos empenhados em ajudar o ser humano. Como jogador, ele tem ualidades altíssimas. Como ser humano, ele tem alguns problemas que precisam ser corrigidos. Todos os jogadores estavam empenhados e por diversas vezes, eles o ajudaram. Não sei dizer se fiz tudo, porque não era só o Jobson. Eu tenho que cuidar de um elenco de 31 jogadores. Tenho que cuidar dos que jogam, cuidar principalmente dos que não estão jogando, deixa-los motivados. Então não era só o Jobson.
René lembrou de uma traumática experiência pessoal para ilustrar a sua dedicação no caso do atacante Jobson
- Tenho uma experiência de vida em que prometi a mim mesmo que jamais deixaria de ajudar alguém. Tinha um parceiro na época de 16, 17 anos. Íamos juntos para todos os lugares. Quando saí do colégio em que nós estudávamos e fui fazer um pré-vestibular, me afastei um pouco e o pai dele me disse que ele estava envolvido em drogas. Ele sabia que eu era radical com isso. Ele foi um dia na minha casa e eu rasguei ele de cima abaixo e disse muitas coisas para ele e não quis ouvi-lo. Lamentavelmente, dois dias depois ele deu um tiro na cabeça. E eu tive a dor de saber que tinha a última pessoa que ele tinha procurado ajuda. Ele queria falar. Precisava de ajuda e eu simplesmente joguei em cima dele toda a minha raiva e indignação por alguém que tinha caído em uma fraqueza. Então eu sempre prometi que isso jamais aconteceria comigo novamente. Eu sempre ajudaria. Lamentaria, mas não sentiria a dor. Hoje eu lamento se o Jobson não der certo. Mas não vou sentir dor porque ajudamos e muito a ele. Não foi por questão de drogas, mas o desgaste foi acontecendo.