terça-feira, 23 de agosto de 2011

110 dias do homem que não queria ser feliz

“Estou muito feliz de ter vindo para um grande clube e motivado para ajudar a equipe na Série A. O Atlético e o Botafogo já fazem parte do meu passado. Minha cabeça está somente no Bahia. Minha expectativa é arrebentar. Os caras estão me dando muita moral, então vou fazer o melhor possível para agradar à torcida.”

As palavras acima foram ditas por Jobson há 110 dias atrás. Tempo suficiente para recomeçar um vida. Tempo suficiente para driblar adversidades. Com explosão, talento e velocidade, Jobson deu pinta que assim faria. Antes disso, enfrentou, sempre com um sorriso no rosto, a desconfiança de todos. O garoto feliz disposto a agarrar com umas e dentes aquela que talvez fosse a sua última chance encantou René Simões. Destaque do time no Campeonato, artilheiro do Tricolor, querido por grande parte da torcida. Jobson tinha nas mãos a faca e o queijo. Tinha em mãos, a chance voltar a sonhar alto.

Mestre com as palavras, René muitas vezes assustou a todos com comparações e comentários empolgados sobre o pupilo. “Ele tem alma pura como Garrincha”, disse o treinador ainda na intertemporada para o Campeonato Brasileiro. René sabia do risco. Bancou a contratação, ouviu amigos. Foi a Dorival Júnior, Joel Santana, dirigentes e funcionários do Botafogo.

Mais do que ninguém, René tentou até o último momento estender a mão para Jobson. Um dia antes do anúncio da demissão do jogador, René falou sobre a situação do jogador. Triste, o comandante dava sinais que havia perdido a batalha. A série de punições educativas não fez efeito. René tentou, mas o atacante já não tinha a confiança do grupo. O Bahia, maior que tudo isso, não poderia se manter refém.

Jobson já não sorria como antes. Na sala de imprensa, desentendimento após uma pergunta. Em um treino, discussão com Carlos Alberto. A espera pela decisão da corte arbitral poderia ser a causa de tudo isso. Mas, o próprio Jobson tratou de provar que não era. Nas diversas ligações que recebeu, o procurador de Jobson, Antenor Joaquim, em momento algum tirou do Bahia a razão pela demissão. “Ele não assimila muito bem regras” definiu. Regras que fazem parte do jogo da vida e que Jobson resolveu ignorar.

110 dias depois de uma nova chance, todos voltam a perder. Perde o Bahia que sem o seu principal jogador na competição deve ter vida ainda mais dura no campeonato. Perde o Botafogo, que em momento algum deixou de estender a mão para Jobson. Perde Joel Santana, que disse se sentir um derrotado. Perde René que confiou até o último instante. Perdem a mãe, a esposa e o filho (de apenas 1 ano), que acreditaram ser possível. Perde o futebol, mas acima de tudo perde Jobson. Um talento jogado na lata do lixo e com chances praticamente nulas de reciclagem.

Que independente do resultado do julgamento da corte arbitral, ele tenha consciência suficiente para julgar a própria vida. Como bem disso, José Ilan, Jobson é apenas vítima de si mesmo. E assim, perdemos todos.

Nenhum comentário: