segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Crônica de uma saudade

Somente hoje, 01 de dezembro de 2008, exatos seis dias após o mais trágico incidente da história do futebol brasileiro, consigo escrever sobre o ocorrido.
Ao apito final do árbitro, o Bahia se livrou de um dos piores momentos de sua história, a terceira divisão. Quando alguns torcedores pularam o fosso e começaram a entrar no gramado comemorando a conquista, a primeira coisa que pensei, ainda que feliz até aquele momento, foi: Quantos jogos de suspensão vamos pegar dessa vez? E pensei como torcedor sim, como torcedor que entende que lugar de torcida é na arquibancada, seja nos momentos ruins como na invasão de 2006 contra o Ipatinga, ou nos bons momentos como ocorreu desta vez. O Bahia pagará e caro pela falta de juízo dos seus torcedores. Seja lá onde for, o time jogará a Copa do Brasil e o início da Série B, de portões fechados.

Mas até o momento desse pensamento, eu não tinha conhecimento da tragédia maior que havia acontecido. O desabamento da arquibancada e a morte de sete torcedores, só chegaram a meu conhecimento após começar a receber inúmeras ligações de amigos e familiares que tentavam se certificar de que estava tudo bem comigo.

Sobre o desabamento da arquibancada num local muito próximo onde eu costumeiramente ficava no estádio, a morte de sete pessoas, entre elas uma com que convivi por mais de três anos, além da identificação dos possíveis responsáveis são pontos que eu não tocarei. Ainda dói.

E ainda nessa semana, a confirmação: A Fonte Nova vai ao chão. Será demolida para a construção de um novo estádio.

A primeira vez que fui ao estádio da Fonte Nova, apesar de não recordar especificadamente da data, foi para um Bahia e Camaçari, no ano de 1993. O Bahia venceu por 5 a 0. Ainda naquele ano, assisti ao primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro daquele ano, Vitória e Palmeiras.

A Fonte tornou-se uma espécie de segunda casa, de uma ponta a outra. Todos os bares, banheiros, tios da pipoca, tias da cana. Comecei a freqüentar o estádio no longícüo ano de 93 em companhia do meu avô, com o passar do tempo passei a freqüentar sozinho, a maior praça esportiva da Bahia.

Lembro de grandes jogos, como Bahia e Vasco pelas oitavas de final do Brasileiro de 2000. 3 a 3, com dois de Romário para o Vasco. Foi num Bahia e Vasco também, só que em 96 que vi pela primeira um gol olímpico no estádio. Ramón Menezes, ídolo pelo Bahia, pelo Vitória e na época do Vasco. Ali também vi gols dos mais bonitos da minha vida futebolística. Vi sentado na arquibancada que fica atrás do gol da Ladeira, o gol mais bonito da carreira de Nonato. O jogo foi Bahia 4, Atlético Mineiro 1, valido pelo campeonato Brasileiro de 2001. O Bahia de campanha brilhante – terminou em 8º - vencia mais um adversário na Fonte Nova. Nonato recebeu dentro da área, de um lençol no zagueiro atleticano, matou no peito e estufou as redes, um golaço. O mais bonito que vi ali. Contra o Galo mineiro, me lembro de outro jogo memorável, Bahia 4 a 3, pelas quartas de final da Copa do Brasil, porém por ter perdido em BH por 2 a 1, o Bahia terminou eliminado. Acompanhei de perto, outros momentos tristes, em 2004, depois de um campeonato brilhante, sob o comando de Vadão, o time chegou a última rodada da Série B, precisando vencer o já classificado Brasiliense e torcer por uma vitória do Fortaleza que jogava contra o Avaí. O time cearense fez sua parte, mas o Bahia não, e numa Fonte Nova lotada, deixou escapar a chance.
A Fonte vai, mas deixará saudades, quem vivenciou dezenas de BaVis de casa cheia, jamais esquecerá, seja o 1 a 1 de 2004, com gols de Obina e Galeano – de bicicleta – ou o antológico 6 a 5 desse ano.

Apesar de todas as decisões, a ficha parece ainda não ter caído. A Fonte Nova vai se tornar Nova Fonte, mas o eterna magia daquele lugar permanecerá, seja pra quem foi apenas uma vez, ou pra quem tem ali toda uma vida, o espírito é o mesmo. Muita saudade, pesar. Nenhum povo merecia isso, o povo baiano então…enfim como Garcia Márquez, parto com meu coração a salvo, e condenado a morrer de bom amor, só que por toneladas de aço e concreto. Boa partida velha amiga. Até a volta.

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