sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Perfis...

Dois perfis escritos há algum tempo porém ainda não publicados.
Um da Cidade de Salvador, curto e grosso. Outra carismático e complexo como a dona, Camila Kowalski, estudante de jornalismo, à época caloura, que aceitou ser cobaia, sendo entrevistada por prototípos de jornalistas, entre eles eu. Dessa entrevista nasceu esse perfil.


Salvador – Cidade Invisível

Uma cidade Fantasma; uma cidade desabitada; assim é Salvador vista a partir de seu centro num dia de domingo.
Se pode ouvir o canto dos passáros, outrora abafado pelas buzinas e murmúrios. Pode-se perceber com atenção uma simples folha levada pela brisa. Ou ainda a inteligência de seres acostumados com o papel de coadjuvantes, usufruindo do papel principal, num jogo de damas, em plena praça pública, sem expectadores.
Uma cidade onde nota-se com mais clareza a miséria e a desigualdade social, uma cidade às claras e ao mesmo tempo às escuras.
Habitada apenas por mendigos e pedinte. Uma cidade invisível aos olhos de quem não quer ou não precisa vê-la.




“ Ambiguidade Radical”

Camila Kowalski, 18 anos, caloura da Facom, apaixonada por esportes radicais, respira arte.

Nova Zelândia, ano de 2003, a alguns metros de altura uma jovem brasileira, de quase 1,60m, pele clara e cabelos longos e negros, é incentivada pelos colegas e pula. Era o primeiro dos três saltos de bung jump de Camila Kowalski em território neo-zelandês.
Filha de um violoncelista da Orquestra Sinfônica da Bahia e da banda Thris, onde toca clássicos do rock em companhia de mais dois violoncelistas e um percussionista; e de uma coreográfa de dança contemporânea, Kowalski tem gostos por todos os tipos de arte, porém diz acreditar que não havia como fugir da regra familiar, “somos educados como um cd virgem, gravado até os quatro anos, …eu desde os 3 anos era obrigada a ir a concertos(musicais), e tinha uma biblioteca em casa.”
A princípio parece uma menina como qualquer outra de 18 anos, ainda lembra das brincadeiras de criança das quais gostava, “brincava de panelinha e Barbie, adorava Barbie!”, diz empolgada, mas logo mostra-se diferente, talvez por sua fé, ou melhor, ausência de fé, “não sei se existe Deus, não sei se acredito, acho que não vamos pra lugar algum após a morte, acabou”
Vegetariana desde que voltou da Nova Zelândia, ela vê como principal característica própria “o fato de se relacionar com o maior número de pessoas, tento não ter preconceitos”, e como principal defeito o fato de ser muito exigente, e surpreende com um “se morresse hoje, o mundo não sentiria minha falta, porque não sou nada demais”.
Kowalski mostra-se uma figura ambígua em determinados pontos de vista, diz não acreditar em Deus, mas fez promessa de que, se passasse no vestibular andaria do Farol da Barra ao Farol de Itapuã, e que escreveria cartas à todas as pessoas das quais soubesse os endereços. Se Deus não existe, a promessa era injustificada, e por que o temor de cumprí-la tão rapidamente? “Não sei, medo de sair do curso?!”. Agnóstica ou não, Kowalski saiu às 9 da manhã, de um dia ensolarado, do Farol da Barra e aportou às 5 da tarde no Farol de Itapuã. Quanto às cartas, pretende terminá-las em breve.
A ambiguidade é presença constante na vida de Kowalski, que “odeia” o carnaval, apesar de morar “no meio” da folia, na Barra, e que no único ano em que tentou “pular” a festa recebeu um tapa gratuito de uma desconhecida. Porém, deve ao carnaval momentos memoráveis da sua vida. “Todo ano viajamos”. Foi assim no carnaval de 2006, em Lajes onde assistiu, pela primeira vez, a competição do bumba-meu-boi.
A menina que “de esquerda”, se diz cansada de política, mas contesta a posição da família. “São todos neo liberais, e não se assumem, não dizem que são de direita, e isso é ridículo!”.
Admiradora de João Ubaldo e Adriana Falcão, Kowalski decidiu fazer jornalismo após assistir ao filme, “Ernesto Varela – O Repórter”, um vídeo com várias reportagens. “Tem uma que o repórter pergunta a (Paulo) Maluf, se ele achava que iria pro céu, tem uma de serra Pelada…”. Ali a utopia por liberdade da menina que sonhava em ser astrônoma, saía do convívio das estrelas e astros do universo e ganhava nova forma, através da expressão, da crítica e dos questionamentos, os três pilares jornalísticos definidos pela jovem.
Porém a arte, de cunho fundamental na “gravação do ‘então’ cd virgem” não será esquecida por Kowalski, que gosta de ouvir “ coisas óbvias” como Caetano e Chico, além de Los Hermanos e Seu Jorge, e é também capoeirista há quase dois anos. Além de namorar um estudante de publicidade, produtor de audiovisual, Kowalski é ainda enteada de Márcio Meirlles, diretor da premiada peça “O Cabaré da Raça”, sem contar que trabalha no Teatro Vila Velha, é arte por todos os lados. Por isso, Kowalski avisa que depois de formada aportará na área cultural do jornalismo.
A aquariana, “muito chorona” e “preocupada com as outras pessoas”, faz várias coisas ao menos tempo e não pará em casa, “só no celular”. Gosta de ser chique, mas acha que essa idéia é decorrente da “síndrome de pseudo-intelectualismo” e finaliza dizendo que odeia o meio acadêmico, e que um dia ainda vai perguntar a um dos “hiper pedantes” professores se algum deles acha que existe vida fora dos muros da faculdade.
Ambiguidade, sinceridade, e a menina do sorriso fácil e encantador é navamente incentivada a pular, não pelos antigos colegas de intercâmbio na Oceânia, mas por figuras até pouco tempo desconhecidas, agora amigos, a dar mais um salto radical, porém não na imensidão do nada, e sim no também imenso campo jornalísticos, com questionamentos e responsabilidade social.

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