domingo, 13 de dezembro de 2009

"Do imbróglio que quiproquó" : O racha vermelho e preto

Desde que tomei conhecimento da grande confraria de divergências que se tornou a diretoria do Vitória tentei entender o que afinal estava a acontecer com o time de Canabrava, ouvindo por diversas vezes as partes envolvidas. As publicações diárias baianas fizeram uma cobertura que eu diria ter sido louvável na busca de esclarecer o leitor sobre o imbróglio. O fato é que o Vitória fecha o ano com um rombo de R$ 7 milhões, sendo que 70% ou R$ 5 milhões são referente a dívidas feitas pelo departamento de futebol, que era comandado pelo ex-presidente do Vitória S/A, Jorge Sampaio, demitido do cargo de diretor de futebol nos últimos dias.

Quem me conhece, sabe que nunca tive pelas figuras de Alexi Portela e Jorge Sampaio simpatia alguma, mas é preciso reconhecer que quando assumiram o Vitória, o time estava em uma terceira divisão. Juntos, trouxeram em dois anos o time de volta à elite do futebol nacional, livraram o clube do estigma da versão baiana de Eurico Miranda, que aos poucos se transformava Paulo Carneiro. Me recordo de muitas das críticas feitas a Jorge Sampaio, que foi quem de fato colocou a cara pra bater, já que Alexi sempre foi mais reservado, atuando muito mais, fora dos holofotes. Diziam que Jorge Sampaio entendia muito de axé music, onde foi agente de vários artistas, e nada de futebol. Apesar disso, ele e Alexi sempre foram tratados como pessoas sérias, gestores de reputação limpa, tudo o que o clube precisava. Não se pode negar que deu certo. O Vitória saiu da série C para a A, disputou a Copa Sulamericana e venceu os três estaduais disputados sob o comando da dupla Sampaio/Portela, além disso, voltou a revelar bons talentos.
Entretanto, o lado torcedor de Jorge Sampaio sempre muito mais presente para os holofotes, do que o seu lado cartola, um grande erro. Quem o conhece, diz que ele sempre foi um torcedor de arquibancada daqueles no bom sentido da palavra, "chato", do tipo que aceita tudo, menos que falem mal do seu time. E esse lado, ele levou para dentro do gabinete da presidência. Mais do que óbvio que um presidente seja torcedor fanático do seu time, equivocado que em muitas vezes deixe o seu lado dirigente para se comportar como torcedor. E em muitas vezes como o torcedor mala, bobo, palerma. A provocação faz parte da magia do futebol, e é necessária, mas pense rápido e responda, qual a graça do presidente do Vitória contratar a cozinheira demitida do maior rival após comandar uma greve, onde reclama o pagamento de salários? E ostentando que na Toca do Leão ela seria bem tratada e receberia em dia? Era o lado torcedor bobo de Sampaio descontrolado. Mesmo lado que tratava o Bahia, como "o time da segunda divisão." Patético se não fosse triste.

No entanto minha crítica à dupla de gestores não é apenas por isso, como futuro profissional de imprensa, com passagens por alguns veículos de comunicação do estado, sei de manobras que envergonhariam qualquer torcedor do Vitória que comemorou "a volta da democracia" ao clube com a queda de Paulo Carneiro. Sampaio e Portela são da mesma estirpe de cartolas que pedem a cabeça de profissionais da imprensa, quando acham que foram de alguma maneira prejudicados. São e eu sei que são. No entanto, isso também não é algo que deva se discutir no momento, e não tem influência nos rumos que as coisas tomaram.

Com o fim do Vitória S/A em 2008, Sampaio, então presidente, passou ao cargo de vice-presidente executivo e também gestor de futebol do Esporte Clube Vitória, sob a presidência de Alexi Portela. A partir de 2009, o trabalho deixou de se concentrar nas mãos dos dois, e o clube ganhou uma espécie de conselho com mais 11 ou 12 diretores, a partir de então, começou o que muitos chamaram de um "processo de fritura" de Sampaio dentro do clube. Em abril, Raimundo Queiroz foi contratado para ser o diretor de futebol, função que já era exercida por Sampaio - segundo este, a contratação foi feita sem que o consultasse. Desde então, Sampaio só perdeu espaço no clube e ganhou um forte opositor, Carlos Falcão, vice-presidente administrativo e financeiro. Sampaio deixou claro que discutiu muitas vezes com Falcão e que este sempre expressou que não gostava da presença do então parceiro de Alexi Portela à frente do futebol.

A política dentro dos clubes de futebol do país é muito forte e em muitas oportunidades é tão podre quanto a política de propinas nas meias e nas cuecas. No futebol baiano não é diferente. No caso do Vitória, Jorge Sampaio é amigo do ex-presidente Ademar Lemos Júnior, uma das maiores lideranças do clube, há mais de 40 anos. Foi Ademar o responsável pela indicação de Sampaio para presidir o clube. Ainda assim o empresário do axé music nunca foi unanimidade dentro da diretoria e foi justamente Carlos Falcão, o seu maior crítico e apesar de relutar em permanecer no clube, não resistiu ao estouro da bomba do rombo e caiu. Colocando um ponto final na relação que trouxe o Vitória de volta à série A e devolveu a este, a hegemonia do futebol baiano.
O fato é que Sampaio sai queimado, como grande responsável pela crise financeira, mas obviamente não é o único. Em entrevista dada ao jornalista Herbem Gramacho, do Correio da Bahia, Sampaio confirma o déficit, mas se defende, inclusive citando o medo de perder o campeonato para o ex- presidente do Vitória, então diretor do Bahia, Paulo Carneiro: "Gastamos (demais) sim. Lógico que não é certo contratar 40 jogadores, mas precisava de 20. [...] O Vitória tinha que ganhar esse campeonato por causa da importância natural, mas era muito mais importante não permitir a reação do Bahia por causa de Paulo Carneiro. Então eu sou errado porque gastei demais?" Em minha opinião, é óbvio que sim, e fica evidente que o lado torcedor influenciou e sempre de forma negativa, mas volto a dizer, Sampaio não pode ser considerado o único culpado pelo rombo de 2009, situação que apesar do alarde feito no Barradão, é comum na maioria dos clubes brasileiros. Poucos deixarão de fechar 2009 no vermelho.

O certo é que o Vitória junta os cacos e vai para 2010 com uma folha de R$ 400mil. As novidades ficam por conta de Mauro Galvão como Supervisor de Futebol e com a merecida chance dada ao a Ricardo Silva, interino em outras oportunidades e agora efetivado como treinador (que tratarei em um outro post). Chance essa que talvez não aparecesse sem o tal "rombo do ano". Por isso, ao torcedor do Leão, resta ver o lado bom da coisa, como Poliana, e pensar que há males que vêm para o bem. E que 2010 tenha menos tormentas e muito mais a se comemorar.

Imagens: futebolbahiano.com e barradaoonline.com

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