sábado, 12 de dezembro de 2009

BR-09: De tudo aquilo que se faz eterno...

Quase uma semana depois, mas ainda assim em tempo, parabenizo ao Flamengo pelo merecido título do BR-09. Talvez eu escrevesse aqui "merecido" para qualquer um dos quatro clubes que chegaram com chances de título na última rodada, afinal este não foi um campeonato qualquer. Talvez somente daqui há alguns anos, como já disse Lédio Carmona, possamos olhar para trás e concordar que este foi um campeonato acima da média, diferente, espetacular. Pela primeira vez na vida, nenhum dos meus dois times disputou a divisão de elite do futebol nacional - o que não é mentira, mas me refiro precisamente ao tempo que acompanho futebol. No entanto, foi com muito entusiasmo que assisti a esta festa linda que foi o BR-09, por vezes tensa, intrigante, surpreendente, enfim, do campo às arquibancadas, tivemos um lindo espetáculo na sua totalidade e que jamais será esquecido.

Com tantos dias de atraso, qualquer que seja o que eu diga aqui sobre o Flamengo, pode ser encarado como mera repetição. No entanto, encontrei no divertido blog Arthur Muhlenberg (blog do torcedor do Flamengo no Globoesporte.com) um texto bem bacana sobre a conquista do a partir do viés de Andrade como o primeiro técnico negro a se sagrar campeão brasileiro e reproduzo aqui. O vídeo também foi retirado do blog do Arthur e pode ser encarado como uma homenagem à torcida que deu um show durante o campeonato. E ainda dizem que torcida não ajuda...ah tá.

Por Robert Shaw para a revista inglesa When Saturday Comes:
O Problema Racial do Futebol Brasileiro

"A coisa mais notável sobre o titulo nacional que o Flamengo conquistou no ultimo fim de semana não é a espera de 17 anos e nem o inesperado verão ensolarado na outonal carreira do meio-campista sérvio Dejan Petkovic. A grande surpresa é que o clube tem Jorge Luís Andrade, um técnico negro. O gato-mestre da SporTV Telmo Zanini considerou o fato um marco e declarou: Esperamos que seja um dia histórico para o futebol brasileiro e ajude a abrir portas para técnicos negros. Como Andrade foi aclamado como o primeiro técnico negro a vencer o Campeonato Brasileiro alguns torcedores rubro-negros lembraram que Carlinhos, o técnico do último título em 1992 foi o primeiro. Mas Carlinhos é geralmente visto como mestiço.

O tema da identidade racial – e quem é classificado como negro – no Brasil, reflete o preconceito generalizado enfrentado pelos técnicos negros. Esse é a sexta vez em que Andrade comanda o Flamengo, e era a terceira opção do clube. Mas foi a primeira vez que ele foi contratado como técnico titular, e não interino. Eleito o treinador do ano, aplaudido por armar um improvável Flamengo campeão combinando os talentos vagabundos de Adriano, Petkovic and Zé Roberto. Andrade foi criticado quando efetivado, com muitos esperando que o Flamengo contratasse um grande nome. O que significa dizer um salário maior, equipe técnica cara e, quase invariavelmente, um branco. Nenhum dos outros times da Serie A é treinado, o que a mídia brasileira parece reconhecer, por um negro.

O próprio Andrade reconhece o problema. “Muitos pensavam que eu não era capaz de fazer um bom trabalho, e aí está a questão da cor. No Brasil nós temos poucos treinadores negros.” Isso se aplica até em clubes como Flamengo e Vasco que são a linha a de frente na quebra de barreiras para os jogadores negros há mais de 70 anos.
Os clubes do Brasil, afogados em dívidas, parecem mais dispostos a colocar dinheiro na elite branca dos técnicos do que contratar alguém mais barato que seja negro. Jogadores conhecidos que se tornaram treinadores como Lula Pereira e Cláudio Adão tiveram menos oportunidades que jogadores do mesmo nível deles nos últimos 20 anos. Andrade ganhou 4 Brasileiros como jogador do Flamengo, mais do que qualquer outro técnico na Série A. Mas sua modéstia pessoal limitou a sua participação nas atividades fora de campo, como palestras e aparições na mídia, que atraíram muitos dos seus contemporâneos. No Brasil, autopromoção aparece como algo tão importante quanto a preparação do time.

Uma rápida olhada nos times do Brasil na Copa do Mundo reforça a impressão. Nenhum dos jogadores negros da seleção de 70 construiu uma carreira como treinador de ponta, apesar das incursões de capitão do time, Carlos Alberto Torres, como treinador. A barreira para treinadores negros é também um reflexo da esmagadora maioria de dirigentes brancos.

Não surpreende que um dos mais bem sucedidos treinadores negros teve que deixar o país pra desfrutar o sucesso. Didi, estrela do Botafogo e da Seleção Brasileira em 1958 e 1962, levou o Peru até as quartas-de-final da Copa de 1970 como treinador. Na realidade pouca coisa parece ter mudado desde os tempos de Gentil Cardoso, há 50 anos. Além de ser o primeiro técnico negro de um grande clube Gentil Cardoso foi quem contratou Garrincha para o Botafogo. Seu sucesso significou um brilho efêmero no cargo de técnico da Seleção Brasileira.

Cinqüenta anos depois Brasil tem um treinador branco, Dunga, contratado sem nenhum experiencia previa. O brasileiro no comando da África do Sul em 2010 é Carlos Alberto Parreira, da elite dos treinadores brancos.

Apesar do sucesso de Andrade pode levar algum tempo antes que os treinadores negros quebrem o apartheid particular do futebol brasileiro."

Flamengo Hexacampeão Brasileiro from Gustavo Pellizzon on Vimeo.

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