Um dos metros quadrados mais caros de Salvador, o bairro da Graça, guarda particularidades que chamam atenção de qualquer intruso observador.
Um morador do bairro mais populoso da cidade, acostumado com a falta de espaço nos passeios lotados, se constrange ao andar pelo meio da rua. Tirando uma banca de revistas aqui, uma obra ali, espaço é o que não falta, a calçada está vazia.
Os cães parecem ser diferentes, não latem desesperadamente, estranho, não parecem cães. Alguns usam roupas e chinelos. Quem disse que não existe a elite canina?!
A Graça nos no ínicio do século passado
Os edifícios levam nomes de ingleses, franceses, possivelmente heróis da história européia, que pobres mortais jamais ouviram falar. E possivelmente nem os próprios moradores.
Mas pelas ruas tranqüilas e de sombras convidativas, se vê a mesma coisa que em qualquer outro ponto da cidade, seja na Liberdade, ou em Plataforma. Esperança. A arte de viver da fé, que só não se sabe em que, também existe por lá.
As senhoras que fazem seu cooper de todo dia, e abrem a bolsa para ajudar um pedinte, não só dão a esmola, conversam, aconselham, parecem acreditar num futuro menos cruel, mais igualitário.
Difícil para esse protótipo de escritor cada vez mais jornalista adorniano, ou seja, pessimista, ver algo nesse futuro.
Mas o menino de não mais que quatro anos, que passa pelo largo, olha no fundo dos olhos de uma mulher com uma criança de colo, provavelmente moradoras de rua, e em seguida olha os pais, aponta a cena e ri com uma expressão de sinceridade tão verdadeira, que parece óbvio traduzir o "olha o bebezinho mãe". Sua mãe sorri e lhe estende a mão, ele ainda se vira para novamente observar a cena.
Num futuro próximo, eles podem até estar em lado opostos, mas o sorriso sincero me deixa com a ligeira impressão de que estarão juntos, independente de qualquer coisa lutando por algo melhor, para todos.
A cena mesmo vista a distância, foi sem dúvida, uma das coisas que vi ali de mais lindo, mais cheio de Graça.
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