segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O Maracanã em dia de festa e milhões

Alan Kardec, uma dupla de zagueiros, duas torcidas, Edmundo e a importância de ter ídolos.

O subtítulo desta pseudo-crônica ao citar apenas nomes de jogadores do Vasco já denuncia que é uma espécie de choro de perdedor, mas prometo que o mais isento choro de derrotado que poderia existir.

O campeonato carioca pode não ser o que reúne os melhores times ou jogadores do país, pode não ser o mais justo em termos de fórmula (essa vergonhosa no tratamento com os times pequenos), mas não se pode negar o charme e a emoção de um fim de semana de Maracanã lotado. Um espetáculo belíssimo foi proporcionado pelas torcidas de Botafogo e Fluminense no sábado. No final deu Fogão e o Fluminense do trio ternura, parou em um Botafogo muito bem armado e na arrogância de seu próprio treinador. Renato Gaúcho declarou há uma semana ao vencer o Fla-Flu amistoso da última rodada que faltavam menos de vinte dias para dar a volta olímpica. Renato aprendeu a ser treinador, fantástico, é um ídolo e continuará a ser no banco, mas, não perde a mania de soltar suas pérolas.
Vai assistir a final da Guanabara de casa ou no máximo da arquibancada.

Mas chegamos ao domingo. O Maracanã mais uma vez maravilhoso, estupendo. Quem cresceu aprendendo a cantar as músicas de incentivo ao time e pular dentro de um estádio, sente arrepio de ver a cena. Não importa qual o time, a divisão ou se ele nem tem mais estádio. O Flamengo entra em campo e é emocionante ouvir "Tu és time de tradição, raça força e paixão! Oh meu mengo!". Mas não demora da nação vascaína cantar em homenagem a um eterno ídolo, a um filho que a casa torna. O torcedor rival conhece bem o calibre do Animal e os milhares de cruzmaltinos cantam em uma só voz "Ah é Edmundo!". Impossível não cantar junto.



Mas vamos ao jogo. Não me recordo de em 2008 ter assistido sequer a um jogo durante 90 minutos. Sabe como é, o ano só começa mesmo depois do carnaval. Mas poucas vezes assisti a um jogo de um dos meus times do coração, com uma grande impressão de que a derrota era inadiável. As escalações mostram um Flamengo superior. Isso já era evidente, mas as mudanças feitas por Alfredo Sampaio parecem fazer do frágil Vasco ainda mais frágil. Ele saca Luisão da zaga e começa com Vilson, na minha opinião seu primeiro erro. Do meio campo pra frente, com as pessoas que tinha a disposição era quase impossível errar, mas Alfredo assim o fez. Escalou o sofrível Jonilson e o medíocre Amaral. Deixou Andrade e Xavier no banco. Deu até saudade do treinador Romário, que obviamente entende muito mais de futebol do que o atual técnico vascaíno. Ver em campo Edmundo, Morais, Alex Teixeira e Alan Kardec, poderia até empolgar, mas com a bola rolando algo parecia errado. Morais ficava muito atrás. Nunca dava pra saber se o companheiro de Alan Kardec (muito isolado) era Edmundo ou Alex Teixeira – na prática Edmundo, mas esse povoava muito mais o meio campo.


Pelo Flamengo, Joel não inventou, foi o Joel de sempre. Montou seu time pra vencer. Juan e Léo Moura não iam tão bem como costumam. O meio campo com Jônatas, Kleberson e Ibson, equilibravam muito bem as coisas.

As torcidas seguiam em um espetáculo brilhante, emocionante, os cantos, as provocações, a alegria da geral com vascaínos e flamenguistas juntos era contagiante. No campo Edmundo rouba uma bola, abre em Amaral que lança Alan Kardec. Era coincidência demais, era como se ídolos vascaínos tivessem baixado no gramado. O passe de Amaral era qualquer coisa de Ipojucan ou Juninho Pernambucano (sinto muito pela comparação, mas sabe como é torcedor…). Alan Kardec corre, corta o zagueiro com a frieza de craques como Romário ou Dinamite e chuta com a categoria de Bebeto ou Ademir de Menezes. Vasco 1 a 0. Vibração no Maraca, na comemoração Alan recebe um outro espírito, um de funkeiro e a nação vascaína dança o "créu"





O Vasco cresce no jogo, mas não marca. E clássico é sempre clássico. Um clássico dos milhões então…Falta para o Flamengo, bola na área e o zagueiro flamenguista Fábio Luciano, sobe sozinho e mostra que no lado rubro-negro ídolos é o que não faltam. 1 a 1. Sua comemoração vibrante faz um torcedor rival sentir saudades de um velho rubro-negro. Rondinelli, o deus da raça se materializa no capitão rubro-negro.


Joel percebe o momento bom. O Vasco sente, O Fla pressiona, mas pra sorte vascaína, o primeiro tempo termina. Ai é hora do lado jornalista parar tudo e aplaudir a transmissão global.

As torcidas já davam seu show, mas o especial "melhores momentos das torcidas" no show do intervalo dá um brilho ainda maior ao espetáculo.

O segundo tempo recomeça e logo no início, Juan derruba Morais. A lógica diz que ele, cobrador oficial do time deve bater. Um vascaíno doido pra eternizar o momento pediria o goleiro Thiago, mas qualquer em sã consciência faria como a multidão na arquibancada, pra bater "Ah é Edmundo!". No mesmo gol onde há oito anos atrás ele perdeu o pênalti que deu ao Corinthians o Mundial de Clubes, no mesmo gol onde em 97 contra o mesmo Flamengo ele foi brilhante e fez três na antológica goleada de 4 a 1. Edmundo telegrafou, bateu mal, recuou a bola e Bruno catou. Agora quem gritava "Ah é Edmundo" era a nação flamenguista em êxtase.




O Vasco sentiu o golpe, o time, a torcida, Alfredo Sampaio. O Flamengo cresceu como se tivesse feito um gol. A torcida passou a empurrar o time, Juan se soltou pela esquerda. O Vasco só assistia. O gol flamenguista era questão de tempo. Apesar de difícil de acreditar, Leandro Bonfim fazia falta. Alfredo põe Andrade, mas logo depois tira Alex Teixeira e coloca Xavier, a intenção segundo ele liberar Morais, pra mim, fechar o time numa retranca estilo Ancelotti (novamente com o perdão da comparação). O treinador vascaíno poderia aprender muito com Joel Santana, que como disse na última semana o jornalista Eric Faria, não é nem pretende ser o melhor técnico do Brasil, é apenas o Joel de sempre.


E Alfredo quis inventar, resultado, bola na área vascaína e Ronaldo Angelin, mostra que o nordestino acima de tudo um forte, ele que havia tomado o corte seco de Alan Kardec no gol vascaíno, ele que deixou o Fortaleza pra jogar no time de maior torcida do país, pede passagem para entrar na galeria de ídolos rubro-negros.


A cabeçada não foi precisa como as de Nunes ou Titã, mas contou com a mesma sorte desses grandes. Tocou na trave esquerda, passou por Thiago assustado e morreu no lado direito do gol vascaíno. Virada, festa, alegria no Maracanã. E o grito que se ouvia era de uma só nação apaixonada: "eu sempre te amarei, onde estiver estarei, oh meu Mengo!".

E ai já não havia mais tempo para reagir. O Flamengo ainda perdeu uma ou duas chances em contra-ataques rápidos, depois foi só prender a bola e esperar o apito final.



Para os vascaíno ficou a sensação de que não foi um domingo todo perdido. Foi bom voltar a gritar "Ah é Edmundo", ainda que lamentar logo em seguida o seu erro. Mas foi um domingo onde acordamos emocionados com a excelente matéria do Esporte Espetacular sobre um velho ídolo, Geovanne. Um craque vascaíno que enfrentou uma grave doença e agora luta para recuperar os movimentos. A força de vontade do ex-jogador de passes precisos e que comandou a geração do tetra na Olimpíada de Seul, é algo que serve de exemplo. As palavras de força ditas por Romário e Edmundo e a visita surpresa do maior de todos os vascaínos, Roberto Dinamite feita ao vivo para Geovanne, emocionou e fez relembrar o quanto é bom ter ídolos. Parabéns a eles, sejam vascaínos ou flamenguistas. E que no próximo domingo o Maracanã mais uma vez esteja lotado e que as torcidas novamente brilhem, e que no final a festa seja tão bonita como a feita pela torcida rubro-negra ontem, com muita paz e muito "creu".


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