segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fonte da saudade

As histórias do futebol são impossíveis de serem contadas sem que se fale sobre os seus templos sagrados. E o que seria de nós sem eles. Nesta terça, 25 de novembro, a maior tragédia do futebol brasileiro completa um ano. A partida era Bahia e Vila Nova, válida pela penúltima rodada do octagonal final da série C. Dentro do estádio Octávio Mangabeira, a Fonte Nova, 60mil pessoas acompanhavam o Bahia, do lado de fora cerca de outras 20mil se espremiam para comemorar o acesso do Bahia à série B. Aos 35 minutos do segundo tempo, um trecho da arquibancada cede e abre um buraco, causando a queda de vários torcedores, sete deles caem fora do estádio e morrem. O futebol brasileiro fazia vítimas. Uma tragédia que poderia ter sido evitada, mas que infelizmente aconteceu. Um ano depois ver a Fonte Nova abandonada dói.

O governo já apresentou o projeto para que um novo estádio venha a surgir no local para que Salvador venha a ser uma das sedes da Copa de 2014. Uma decisão relevante ainda que não vá trazer de volta as vítimas, é que no projeto da nova Fonte será criado um memorial em homenagem aos sete mortos.

Localizada em um ponto central da capital baiana, ele permanece ali, impassível, no meio do roteiro diário de tantos baianos, inclusive o meu. Passar nas noites de quarta ou nos finais de semana pela Ladeira da Fonte e vê-la deserta é de partir o coração. No lugar onde aprendi a cultuar o futebol. O meu templo. O templo da Bahia. Onde mais de 110mil torcedores empurraram um time formado nas divisões de base contra os poderosos Fluminense e Internacional, para comandados pela elegância sutil de Bôbo conquistar o Brasileiro de 88.

Local onde assisti a minha primeira final de campeonato Brasileiro, no auge dos meus 6 anos. O surpreendente Vitória de Fito Neves contra a máquina palmeirense de Vanderlei Luxemburgo, em 93. Fonte que é da saudade, onde meu saudoso me contava das estripulias feitas por Garrincha em solo baiano ou do "quase-gol-mil" de Pelé em 69, gol este salvo pelo recém falecido Nildo Birro Doido, em cima da linha, para desespero da diretoria do Bahia.

A Fonte que eu tenho na memória é aquela onde todo mundo marcava de se encontrar na estátua de Pelé na entrada do estádio. A Fonte que vai ficar eternizada é a que viu Beijoca, Douglas Franklin, Elizeu Gódoi, Baiaco, André Catimba, Osni e tantos outros craques.

A Fonte Nova que eu nunca vou esquecer é uma lotada com mais de 60 mil pessoas por jogo para assistir a fase final da Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro. Enfrentar adversários como Barras do Piauí, Coruripe de Alagoas ou Fast do Amazonas, talvez fosse motivo de vergonha para a história de algum grande clube, mas naquele palco, com uma torcida apaixonada ao redor, sem dúvida era motivo de orgulho para todos os envolvidos na disputa.


O certo é que um ano após a tragédia as marcas ainda doem. Hoje a Fonte adormece silenciosa, triste, a espera do retorno triunfal, que espero que seja breve. Hoje ela é a Fonte das recordações, é a Fonte da saudade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto!

Caramba! Um ano já! Acompanhei essa tragédia pela Record Internacional.

Espero que a "Fonte" nao seja esquecida e que volte triunfante ao futebol nacional.

Anônimo disse...

Eric,

Tô passando pra avisar que o Guard Rail mudou de enderço. Agora é www.guardrailf1.com

Bjs