domingo, 31 de maio de 2009

Aplausos esperançosos

No final de 2008, com o fim do mandato do presidente Petrônio Barradas criou-se a expectativa de que enfim o Bahia estaria livre do grupo que por anos comandou e arruinou um dos mais respeitados e queridos clubes deste país.

A eleição para presidente do Bahia passou a ser encarada como algo de grande importância para o estado, com o envolvimento inclusive do governador da Bahia, Jaques Wagner, tricolor declarado. O governo abriria mão de um dos seus principais nomes, o economista Reub Celestino, em pró da reestruturação do Bahia. O nome de Reub ganhou força para presidir o primeiro campeão nacional e os atuais mandatários com a imagem arranhada ao longo dos anos, pareciam que enfim deixariam o clube, mas veio a cartada final. Colocaram em jogo o nome do jovem deputado federal Marcelo Guimarães Filho, filho do ex-presidente do clube Marcelo Guimarães, preso em novembro de 2008, sob a acusação de fraudes em licitações públicas.

O deputado, que também é ligado ao ex e eterno presidente Paulo Maracajá, não contou com a aprovação da grande maioria dos torcedores. No dia 29 de novembro do ano passado, milhares de tricolores foram às ruas em uma das mais bonitas e pacificas demonstrações de amor a um clube de futebol, era a passeata contra o continuísmo, e o continuísmo atendia pelo nome de Marcelo Guimarães Filho.

A opinião da massa tricolor não foi o bastante para convencer os corações dos eternos dirigentes e no fatídico 11 de dezembro de 2008, Marcelo Guimarães Filho foi eleito com 193 votos, enquanto o candidato de oposição Fernando Jorge, recebeu sete.O presidente chegou ao poder anunciando que não representava o continuísmo e sim o “novo”, uma vez que não pensava da mesma forma que os antigos dirigentes, que praticamente o criaram dentro do Bahia.

Marcelo fez promessas, entre elas a sonhada reforma do estatuto, com a instituição de eleições diretas a partir do próximo pleito para presidente, em 2011. Surpreendeu ao anunciar a nova diretoria, colocando para gerir o futebol do clube o ex-presidente do Vitória, Paulo Carneiro - um dos maiores responsáveis pela atual estruturação do Vitória. E foi Carneiro quem trouxe ao Fazendão, Alexandre Gallo, treinador jovem e de potencial.

Ao longo dos seis primeiros meses de mandato, Marcelo deu mostras de boas intenções. Convocou grupos da oposição para sentar à mesa e recebeu propostas, começou uma reestruturação física com o intuito de modernizar o Fazendão e apresentou um plano de marketing – algo esquecido pelas gestões anteriores.

Porém, não só de flores foi construído o caminho. O clube lançou duas campanhas de vendas de pacote de ingressos, o Bôra Baêa e o Bahia Vip, porém nenhum dos dois dá direito ao torcedor de se tornar sócio – como ocorre, por exemplo, no programa “O Vasco é meu”. Pelo planejamento apresentado no plano de marketing, o novo portal, a loja física e a tv já deveriam estar funcionando, mas até agora nada.

Dentro de campo, o time que começou o ano muito bem, começa a afastar o torcedor. Se na largada do campeonato baiano, o estádio de Pituaçu chegou a comportar 20 mil tricolores por jogo, na série B, em duas partidas o time ainda não levou sequer 15mil, ainda que se leve em contas as fortes chuvas que caem em Salvador.


Os jogadores de “nome”, apostas da diretoria parecem jogar mais com os “nomes” do que com as pernas, que já não respondem tão bem. Caso de Rubens Cardoso e Patrício, que inclusive já deixou o time. Quem chegou com o status de ser o maestro do time, Leo Medeiros, hoje é contestado pela lentidão e falta de criatividade. Quem chega como solução, o boliviano Jhasmani, só poderá atuar em agosto.

O time que joga em apenas um tempo, dá mostrar de ser muito mal preparado fisicamente e não passa ao torcedor a mínima confiança de que estará em 2010 na série A. Torcedor que mesmo nos momentos adversos não abandonou o time. Quando o diretor de futebol, Paulo Carneiro anunciou que Pituaçu lotado pagaria a folha dos jogadores, a torcida prontamente fez seu papel e entregou por mais de uma vez ao Bahia em 2009, rendas próximas de R$ 1 milhão.

O mesmo torcedor que apesar de maltratado pela diretoria, que o obriga a pagar R$ 30 (!!) reais para assistir a um jogo de Campeonato Baiano (!!), lota o estádio e canta antes, durante e depois – sem falar na absurda cobrança dos mesmos R$ 30 para crianças durante o estadual. O mesmo torcedor que aplaude um time de futebol medíocre que acabara de vencer por 1 a 0, o Ceará jogando dentro de casa e levando pressão desde os minutos iniciais. Torcedor é mesmo passional, o do Bahia então.

Jogadores com o zagueiro Nem, os volantes Elton e Leandro e o goleiro Marcelo compõem a pequena lista dos acertos dentro de campo deste novo Bahia. O torcedor continua desconfiado. Mas nesta semana de clima confuso na Bahia, com sol e chuva se revezando, o torcedor recebeu uma boa nova. O presidente tricolor convocou os conselheiros e convidados – infelizmente não os sócios – para apresentar “novidades institucionais”, entre elas a criação do Conselho Consultivo e o esperado balanço do início da gestão da atual diretoria, balanço este que foi uma das bandeiras propostas por Marcelo Filho antes de assumir a presidência.

Ainda há muito a ser mudado, porém não se pode cobrar em seis meses a completa reestruturação de algo destruído ao longo de anos. Sem hipocrisia, com uma justa desconfiança e de olhos bem abertos, o sensato torcedor tricolor nesse momento deve aplaudir a iniciativa do presidente e não vê-la com um favor ou enganação.

Sim, é uma obrigação, mas ao mesmo tempo, o presidente cumpre a sua palavra, que pode não ser o marco de uma nova era, mas ao menos é o de um momento novo, que dá ao torcedor a boa expectativa de que uma ampla reforma no estatuto vem por ai. O coração tricolor, ao menos nestes dias, baterá mais esperançoso.

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