domingo, 30 de agosto de 2009

Uma patriótica falta de respeito

Como é de conhecimento de todos - ou quase todos - a seleção brasileira enfrenta a chilena no dia 09, às 22h, no estádio de Pituaçu em Salvador. A venda de ingressos começou (e terminou) neste domingo, 30 de agosto. Pois bem, a venda de ingressos para qualquer grande evento na Bahia sempre foi desorganizada (salvo raras exceções), para futebol então, nem se fala, o sempre maltratado torcedor do Bahia, que o diga. Citando alguns exemplos, no dia 26 de julho, passei exatas 4 horas na fila para comprar um ingresso para a partida entre Bahia e Vasco, que foi disputado no mesmo estádio onde a seleção estará em campo pelas Eliminatórias para a Copa da África do Sul. Outro caso aconteceu no ano passado e não teve nada a ver com futebol. Foram exatas 14horas de fila para comprar ingressos para o show de João Gilberto, em mais um show de desorganização, onde milhares de pessoas que passaram a madrugada na fila, não conseguiram ingressos.


Mas vamos ao que interessa, dia 30 de agosto de 2009, o dia D para quem desejou ver a seleção brasileira após 11 anos de ausência em palcos baianos. A CBF divulgou antecipadamente, no dia 18 de agosto, os seguintes pontos de venda.

Estádio Roberto Santos - Pituaçu
Av. Luis Viana Filho, s/n - Paralela

Ginásio Antonio Balbino - Balbininho
Ladeira da Fonte das Pedras, s/n - Nazaré

Shopping Salvador
Av. Tancredo Neves, 2.915 - Caminho das Árvores

Shopping Barra
Av. Centenário, 2992 – Bairro – Chame-Chame

Shopping Paralela
Av. Luis Viana Filho, 8.544 - Bairro - Paralela

Pela internet: FutebolCard - www.futebolcard.com

Porém, um dia antes da venda, tomei conhecimento que a pedido do diretor técnico da CBF, Virgilio Elisio, mais dois pontos de venda seriam implantados. Ambos em bairros populares, um na sede do bloco afro Ilê Ayê, na Liberdade e outro no Clube Periperi, no bairro de Periperi, subúrbio da cidade. Apesar de não divulgado antecipadamente, vale destacar a ótima iniciativa de colocar a venda nesses bairros – apesar dos preços nada atrativos.


Mas o que precisa ficar claro é que era esperada uma grande disputa por ingressos, enormes fila e etc. Porém, o que não era esperado (mesmo com o histórico de desorganização) era a falta de respeito com o torcedor. Seriam comercializados pouco mais de 27 mil ingressos, uma vez que os outros 4 mil são reservados para a CBF, torcida chilena, patrocinadores e afins. Portanto, também era de esperar que muita gente ficasse sem ingresso. Afinal em situações como esta é normal a procura ser maior do que a oferta. Portando a reclamação é contra a forma com que o torcedor foi tratado. Em qualquer país civilizado do mundo, em no máximo duas horas, pelo tamanho da procura, os ingressos já estariam esgotados e os que infelizmente não conseguissem, voltariam para casa (de certo que contrariados), porém teriam perdido "apenas" duas horas, tempo já absurdo, mas digamos que um pouco compreensível.

Mas ai começa a sessão de atrapalhos. Ponto 1, apesar de marcada a venda para o bairro da Liberdade, que por ser um bairro próximo da região central, poderia desafogar os super lotados shoppings Barra e Salvador, não aconteceu. Liguei por volta de 10h para a sede do bloco Ilê, que fica a poucos quilômetros da minha casa. Fui informado de que a venda aconteceria a partir das 11h e que cerca de 50 torcedores já estavam no local (uma das menores filas, entre os pontos de venda). Uma nova ligação, por volta do 12h, e a informação de que a venda havia sido cancelada. Apesar da presença de funcionários da Secretaria do Trabalho e Esporte, que auxiliariam a venda, a empresa Outplan, responsável pela confecção dos ingressos, não levou para o local as impressoras.

Vale lembrar que a Outplan era a mesma empresa que durante o campeonato baiano e começo da série B, vendeu os ingressos para os jogos do Bahia. Inúmeros foram os problemas, inclusive citados neste blog. Relembre um aqui. Outro ponto é que o senhor Robson Oliveira, diretor- sócio da Outplan, responsável pela logística da venda dos ingressos, disse a reportagem do jornal A Tarde que havia disponibilizado 50 máquinas em 7 pontos de vendas, mas, na prática, eram apenas 5 pontos, já que além da sede do Ilê que não vendeu, o Balbininho apresentou problemas e suspendeu as vendas. Além disso NUNCA 50 máquinas estiveram em funcionamento. No Salvador Shopping por exemplo, eram apenas três guichês normais e um com acesso prioritário, sendo que por boa parte do tempo, apenas dois guichês normais funcionavam. Levando em conta, o mesmo número para os Shoppings Barra e Paralela, mais o Clube de Periperi, local onde a venda foi mais tranquila, teríamos 16 e supondo que 20 guichês em Pituaçu, que era o local ais preparado para a venda, chegamos a 36, o que duvido muito que tenha ocorrido. Não acredito que sequer 30 guichês no total funcionaram.

Vale ressaltar também que fui um dos maiores críticos da briga Esporte Clube Bahia/BWA contra Sudesb/Outplan, entendendo que a diretoria do Bahia agia de forma errada, mas depois de mais uma da Outplan, reconheço aqui o mérito de Marcelo Guimarães Filho em romper com a incompetente empresa.

Ponto 2. Nas primeiras horas da manhã, fui informado pelo colega jornalista Yuri Barreto, que percorria os pontos de venda, também na epopéia em busca de um ingresso, de que o Balbininho era o local de fila mais convidativa. Contudo fui informado mais tarde, já na fila do Salvador Shopping, de que a venda no Ginásio havia sido interrompida por problemas técnicos nas máquinas da Outplan. Isso depois do torcedor levar toda a chuva providenciada por São Pedro para o domingo soteropolitano.

Ponto 3. A grande reclamação: Confesso que de tão maltratado na tentativa de comparecer a grandes eventos em Salvador (e olhe que raramente temos grandes eventos) já não esperava muito do tratamento dado ao torcedor disposto a para R$100 reais (valor da inteira) para ver a seleção. Mas o do Salvador Shopping surpreendeu. Fora o número de guichês que hora eram três, outras (poucas) eram quatro, é preciso que se destaque a genial idéia de ‘girico’ de realizar a venda no estacionamento do shopping. Se a direção não queria as pessoas (que consumiram e muito no estabelecimento) dentro do seu shopping, que encontrasse um outro disposto (como fez o Shopping Paralela, que também teve longas filas, mas que tratou muito bem o público), porém colocar a multidão que buscava um ingresso dentro do abafado estacionamento com o agradabilíssimo ar puro gerado pelos automóveis, foi realmente um grande achado.

Para piorar, sequer uma ala do local foi isolada, ou seja, a todo momento carros circulavam cortando a fila e colocando em risco a vida das pessoas, inclusive as muitas crianças ali presentes. Que a sessão de absurdos tenha terminado junto com os ingressos, que por volta de 22h se esgotaram. Pouco antes disso, após 7horas de fila, consegui comprar o meu. No entanto, outras centenas de pessoas, não conseguiram. Encontrei no blog Colando Pixel um post sobre a decepção de não ter conseguido e recebi por e-mail um texto de Mario Jorge Bonfim, chamado Brasil x Chile - O gol do absurdo, vale a pena ler o desabafo de quem passou tanto tempo na fila e não conseguiu.

Vale destacar que não houve tumulto, ou qualquer tipo de hostilidade para com funcionários do Futebol Card que trabalharam na venda. A única confusão presenciada por mim no Salvador Shopping, foi entre duas mulheres, mas segundo informações foi provocada por ciúmes. A se destacar além da paciência o bom humor do povo baiano - é claro do que conseguiu ingressos - que apesar das sete horas de fila, ao menos de hora em hora cantarolava com adesão de boa parte da fila, varias músicas, entre as mais pedidas estava um hit bem comum em Pituaçu e que deve ser muito ouvido mesmo no dia do jogo da seleção, o hino do Bahia. Agora aos aventureiros felizardos se encontram no dia 09 para ver o time de Dunga e seus comandados.

PS: Vale aqui o carinho e um muito obrigado a Fernanda Varela, amiga, sócia, 'tricolora' e parceira de fila.

Nota do Jornal A Tarde: Até quem preferiu a comodidade da internet sofreu. A venda pelo site futebolcard.com não começou no horário estipulado, às 9h. Para piorar, às 11h, o endereço eletrônico saiu do ar, reflexo do número de acessos estimado em mais de 300 mil. A situação só voltou a ser regularizada cerca de 20 minutos depois. Por volta das 13h, todos os bilhetes de arquibancada (ao preço único de R$100), lá, já haviam sido vendidas.

Nota pós notas: A Sudesb divulgou nota onde diz APENAS que as vendas foram um sucesso. Sobre os problemas sequer uma linha. Já a Outplan disse em nota que o torcedor foi tratado com o devido respeito. Se a forma de tratar o torcedor foi considerada por eles respeitosa, imaginem então o que eles consideram falta de respeito.

Fotos: A Tarde, Uol e Colandopixel.com

Nenhum comentário: